terça-feira, 31 de janeiro de 2006

PAINEL F/V

Descabelando o palhaço I

O ex-crooner e dono da Itália Silvio Berlusconi, que ostenta o título de italiano mais sensual desde que Mussolini foi castrado numa praça de Milão, declarou que se absterá de sexo até as eleições parlamentares de abril.

Descabelando o palhaço II

A atitude agradou ao Papa Chico Bento XVI, que prometeu levar a moda ao Vaticano. Os coroinhas do Salão Oval da Capela Sistina terão férias coletivas até maio.

Com o avental todo sujo de ovo

Depois de 25 anos, as mães da Plaza de Mayo deixarão de se reunir semanalmente para protestar pelo sumiço de seus filhos durante a ditadura argentina. Há décadas que os pimpolhos estão fumando maconha escondidos na Sierra Maestra. Só não voltam para casa porque têm vergonha de tomar umas palmadas, os rebeldes inzoneiros.

Salvelindo Pendão

Me acusaram de não ser um sujeito patriota. Nego veementemente. Meus olhos marejam toda vez que aparece a bandeira dos Estados Unidos no final de Rambo 3. Sobretudo na versão dublada do Cinema em Casa.

... and chicks for free

Devido a problemas de conjuntura alcoólica, a conta bancária da Editora Ediurso, que publica SorryPeriferia, sofreu um crônico default orçamentário em janeiro. Há menos dinheiro na conta da editora que no caixa do governo da Etiópia. Ao menos tem água em casa.

Me dê a mão, me abraça

Consultada a respeito da campanha do Corinthians na Libertadores, Mãe Dinah declarou que a equipe sofrerá derrota para os chilenos do Universidad Católica. O motivo: corintiano não se dá bem com universidade. Fosse um Supletivo Católico e a peleja estaria no papo.

Em rio que tem piranha... Parapsicólogos do mundo todo se reuniram em Londres e concluíram não ser verdade o boato de que a baleia encalhada no Rio Tâmisa era na verdade um ectoplasma de Sérgio Motta em visita ao Velho Continente. Ao que parece, a baleia era simpática.

Horóscopo

31 de janeiro: Mercúrio e Júpiter em tensão confundem caminhos e trazem obstáculos na comunicação. Hora de aprender o código morse.

Recordar é viver

Mamonas Assassinas: Na política / o futuro / de um país! Cala a boca e tira o dedo do nariz!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

PLAY IT AGAIN, SAM

- Você me despreza.

- Não. Se eu pensasse em você provavelmente eu te desprezaria.

(silêncio)

***

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

TODA FASHION WEEK TEM UM QUÊ DE MIRIAM LEITÃO

Pavão anoréxico desfila motivos sulfurosos em tom amarelo hepático

Alguém já leu algum livro de Fernando Henrique Cardoso? Aposto uma falangeta do meu dedinho que todos os que leram FH assim fizeram porque obrigados, com a exceção da Dona Ruth e da Miriam Leitão. A primeira é aquela que há quarenta e poucos anos esquenta a janta do dito cujo; a segunda é só uma intelectual de churrascaria apaixonada pelo FH.

No entanto, é salutar - eu sempre quis usar a palavra "salutar" - que todos os meios de comunicação clamem o Fernando Henrique como um pensador do Brasil contemporâneo, um intelectual a frente de seu tempo, um Caio Prado de lábios grandes, etc. Para a imprensa, FH é o Mister M da sociologia do Brasil. Para o Brasil, FH é só o ídolo da Miriam Leitão, a intelectual de churrascaria apaixonada pelo FH.

Com a São Paulo Fashion Week a coisa também vai por aí. Eu poderia fazer demagogia barata aqui - adoro uma demagogia barata bem safada - e mandar perguntar ao pipoqueiro da esquina o que ele achou da essência futebolesca do desfile da Rosa Chá. Mas isso não o farei, pois até a demagogia barata tem limites. No entanto, a cobertura da SPFW na mídia ocupa inenarráveis minutos de TV que ocupam a cabeça do espectador com absolutamente nada que faça sentido. "Mulheres cadavéricas desfilam com roupas coloridas da grife tal", narra o speaker. E acabou.

Na qualidade de hebdomadário atual, SorryPeriferia não se furta a dar sua versão sobre o que é o São Paulo Fashion Week, em simpáticos tópicos:
- É tudo mentira essa história de que a moda dá lucro. Quem lucra com a semana da moda são os traficantes. Todo mundo é cheirador nessa fanfarronice. Os estilistas cheiram, as modelos cheiram, os jornalistas cheiram. Se tivesse gandula no desfile, até os gandulas cheirariam. A overdose é cool.

- Roupa mirabolantes podem até dar status, mas, como disse acima, não dá lucro. Aposto uma falangeta e dois metacarpos da minha mão que esse negócio é uma voluptuosíssima lavagem de dinheiro. Eu, diretor comercial fodão de uma grande empresa têxtil, injeto uma grana pra essa bichona organizar um desfile com o nome da empresa enquanto alguns milhões de dólares entram no país por baixo do pano. E ainda dou um tapa na peruca de umas modelos cheiradonas.
- Nada contra as bichonas, mas tudo contra as bichonas rancorosas (leia-se estilistas). Dizem que as modelos são magras daquele jeito porque as roupas têm que ficar penduradas como se estivessem em cabides. Só que roupa não é feita pra ficar no armário. Parece raiva de mulher bonita mesmo. "Eu, estilista famoso, não posso ser o mulherão que queria. Logo, só trabalho com mulheres horríveis". Frustração pessoal transpassada ao profissional. Então, quanto mais feio, mais bonito: a mais gordinha das passarelas pode ter as pernas quebradas ao meio após o desfile e utilizadas como garfo pra catar sushi. Fosse eu mercador de modelos, iria até a Somália revelar talentos. Mas temo que as somalis não aceitem pagamento em cocaína.

- O interesse do público na SPFW em si quase inexiste. As pessoas querem saber quem é que o Ronaldinho foi catar e nas fofocas do Henri Castelli, não na estamparia do Caio Gobbi. Ao menos para a TV aberta e para as revistas (Em TV a cabo, site e jornal cabe espaço ao público específico), acreditar no contrário é má fé ou mau jornalismo.

A minha parte da Fashion Week eu quero em pinga.

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

PORTÃO DE FERRO, CADEADO DE MADEIRA


Naomi Campbell, ao que parece, na abertura do programa Paiva Netto

Imagine a situação: um cineasta estúpido de terra estranha vem ao Brasil para fazer um filme sobre o futebol. Vamos dar um nome a este cineasta estúpido. Que tal Johnny Corizza? Perfeito. Johnny Corizza, cineasta do Arkansas e anta em potencial.

Pois bem, Johnny Corizza quer um personagem principal. Procura aqui, fuça ali, chafurda nas favelas até que chega a uma brilhante conclusão: a estrela do filme sobre futebol vai ser o Tony Meola. Lembra do Tony Meola? Goleiro da seleção norte-americana nas copas de 94, 98 e 2002. O companheiro Meola é o que José Simão chamaria de um rinoceronte de sunga. Grande e detentor de queixos suínos, Meola era atleta de futebol americano e, na época de Copa do Mundo, integrava-se ao time dos States. Uma lenda trash da pelota americana como destaque de uma produção cinematográfica sobre o futebol no país do próprio futebol.

Câmera corta. Agora estamos no mundo da moda. Flashes, glamour, cocaína. Um pepeisson estúpido de terra estranha vem ao Brasil para uma campanha publicitária de roupas chiques para o público feminino, a TNG. Vamos dar um nome a este pepeisson estúpido. Que tal Gaylord Corizza? Perfeito. Gaylord Corizza, publicitário do Arkansas e toupeira utópica.

Gaylord Corizza está no país dos decotes. É verão. As coxas carnudas oscilam frente aos olhos dos homens no metrô. No metrô, onde o ar é vidro ardendo e labaredas torram a língua de quem disser: eu quero aquelas coxas, eu quero aqueles decotes. É o país onde as mulheres feias arrumam um jeito de realçar suas virtudes, por menores que sejam. Um umbigo de fora, uma calça de cano baixo, uma boca. Boca de mina amanteigada quente.

Corizza procura aqui, fuça ali, chafurda nas favelas até que chega a uma brilhante conclusão: a estrela do filme publicitário da TNG em um país de belas mulheres vai ser a Naomi Campbell. E é a anoréxica Naomi Campbell que está em mil e um outdoors da TNG espalhados por São Paulo, como se fosse ela um paradigma de beleza, sobretudo em um país que prefere as sinuosidades corporais à tábua de passar roupa.

A srta. Campbell é praticamente um fio de macarrão. Achocolatado, já que ela é negra. Tantas negras lindíssimas por aqui, com mais curvas que a estrada de Santos (*copyright Domingos Fraga), e eles vão buscar um jaburu inglês que aparentemente fugiu da Somália no último trem Nilo acima. Na província onde nasci, quando tinha 16, 17 anos, cantávamos um baiãozinho para cada tribufu naomicampbellesco que passava pela frente. Um amigo nosso tinha ouvido a cantiga num ritual de macumba, eternizadas por nós para peruas e mulheres com a estética subdesenvolvida:

Portão de ferro,
cadeado de madeira
No portão do cemitério
Encontrei o Exu-Caveira

O pepeisson que fez essa propaganda não gosta de mulher. Drumond me daria razão. Viva o decote nacional.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

BESOURO, QUANDO CAI DE COSTAS...

O hospital onde nasci faliu. Moro numa rua sem saída de um bairro chamado Jardim Bizarro. Dois dos cinco dedos do meu pé esquerdo são juntos. Dobrados, eles ganham a forma de um par de glúteos em miniatura.

A ira divina é implácável.

terça-feira, 10 de janeiro de 2006

O ÚLTIMO TANGO EM GOLÃ

Bola de sebo! Bola de sebo! Bola de sebo!

Preocupado com a recuperação do Vovô do Bolinha da Luluzinha e premiê israelense Ariel Sharon, contatei minha amiga Mother Dinah para saber sobre o futuro de meu porco capado preferido. Prefiro chamá-la de Mother Dinah porque, como a consulta é sobre o estrangeiro, não pegaria bem a ela ser chamada de Mãe Dinah pura e simplesmente. Soaria terceiromundista demais, e disso já bastam os palestinos.

Pois bem. Minha amiga foi ao Além onde contatou um exu matreiro que me serviu como fonte sobre o que vai ocorrer desde que Sharon optou pela vida e pela baba em detrimento da morte e do inferno. Abaixo, seguem transcritas as manchetes do jornal A Tribuna Cisjordaniense que ocorrerão ao longo do primeiro semestre de 2006, sempre segundo o exu.

SorryPeriferia: leia antes que aconteça. Chupa, CartaCapital. Chupa, Zíbia Gasparetto.

A TRIBUNA CISJORDANIENSE

data......manchete

9.1 - Ariel Sharon respira sem aparelhos

11.1 - Ariel Sharon mexe os bracinhos

20.1 - Ariel Sharon abre a boca e esboça palavras

22.1 - Ariel Sharon: "Gugu, dadá, mamãe!"

9.2 - Premiê israelense completa um mês de recuperação e ganha babador de George W. Bush

1.3 - Introspectivo, Ariel Sharon curte sua recuperação

12.3 - Sharon promete entrevista ainda esta semana

17.3 - SHARON EXCLUSIVO: "ALÁ SALVOU MINHA VIDA!"

18.3 - SHARON REVELA: "VI ALÁ PESSOALMENTE. ELE USA BIGODE!"

19.3 - SHARON CONVERTIDO AO ISLAMISMO

20.3 - SHARON REASSUME CARGO DE PREMIÊ E FAZ PEREGRINAÇÃO PELO SAARA

25.3 - SHARON REVELA: "O SOL ESTAVA QUENTE E QUEIMOU A NOSSA CARA"

18.4 - MURO DAS LAMENTAÇÕES VIRA FILIAL DO HABIB´S

9.5 - SHARON, PARA BIN LADEN: "LET´S TALK ABOUT BUSINESS, BENZINHO"

20.5 - ARIEL SHARON CHORA AO ASSISTIR CAPÍTULO FINAL DA REPRISE DE "O CLONE"

21.5 - SHARON EXCLUSIVO: "JADE MERECIA MELHOR SORTE"

14.6 -VESTIDO DE SHERAZADE, PREMIÊ ISRAELENSE PRESTIGIA ARÁBIA SAUDITA x TUNÍSIA PELA COPA DO MUNDO

28.6 - SHARON SOBE AO PALCO EM SHOW E CANTA HINO DA TURQUIA COM KHALED

A qualquer momento voltamos com a programação da vida de Ariel Sharon para o segundo semestre, incluindo aí a data da cirurgia de anti-circuncisão do premiê israelense.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

ROXAXANÁ NA SHATILA DOS OUTROS É REFRESCO

Ao que parece, Ariel Sharon rebolou sem bambolê. Nesta sexta-feira o vovô do Bolinha da Luluzinha completará 24 horas em coma induzido, o que provavelmente corresponde ao tempo em que ele manteve seu maior nível de sanidade mental desde que o rabino Adolph Eichmann lhe cortou uma pequena parte de seu parafernaliazinha genital, lá pelos anos 20.

Vai logo, vai Sharon. Vai que o Pinochet tá nessa fila. É hoje que eu asso um porco pra comemorar.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

O DIA EM QUE SARNEY MORREU

Uma tragédia nem tão tragédia assim, em meio ato apenas

Não bebi para dormir na noite do dia 30, mas sonhei que estava de fogo. Um marimbondo de fogo. Explico: sonhei que estava bêbado e que José Sarney, o eterno sósia do Mentor do He-Man, o autor de Marimbondos de Fogo, Brejal das Guajas e outros livros de poesia que nem a Roseana leu, morreu.
Pior: recebi a notícia quando me encontrava em transe etílico em um lupanar não sei onde, com alguns amigos que não sei quem eram.

Adendo: por lupanar entenda-se puteiro.

Os agravantes contra minha pessoa não param: no imbróglio, eu estava com uma camisa amarela-berrante aberta até o peito, subindo as escadas do recinto em uma bicicleta também amarela-berrante, É quando toca o meu celular, com a tradicional Balada do Morto Muito Louco:
- Alô.

Era minha irmã, honesta funcionária pública do Banco Central:

- Fernando, é crise na certa! Escuta: o Sarney subiu no telhado, escutou? Subiu no telhado!

Morreu! Bateu as botas!

- Mentira!

- Mentira nada! É batata! É batata!

Ao receber a notícia, pedalei para o mezanino - sim, eu subi as escadas de bicicleta - em busca dos meus amigos imaginários, e passamos a entoar freneticamente um merecido coro de marchinhas de carnaval. É quando a Balada do Morto Muito Louco pula o meu celular do bolso mais uma vez:

- Alô.

- Fernando, sou eu de novo.

- Não morreu??

- Morreu, já falei! Escuta: a crise é grave, percebe? É gravíssima! O Banco Central está apreensivo, o Copom vai se reunir após o velório! Os juros vão disparar! O FMI não quer saber, não quer saber! É a falência do país!

- E o Zequinha?

- Dane-se o Zequinha! Escuta: você precisa fazer um pronunciamento. Um pronunciamento!

- Eu!?!? Desregulaste?

- Sim, você! Escuta, Fernando: o país precisa de um jornalista! O Sarney morreu, é a falência do Brasil! Precisamos de um discurso que acalme a nação! É o discurso ou a falência do Brasil!

- Mas de falido já me basta! Um país a mais ou a menos na bancarrota não vai me fazer diferença!

- Escuta, Fernando: cala essa boca e te prepara! Te ligo em cinco minutos e você entra ao vivo, entendeu? Ao vivo! Em rede nacional!

Minha irmã desligou. Puxo a manga da camisa amarela, estufo o peito e chamo o garçom:

- Fabão! Desce uma cachaça que hoje eu viro notícia!

(Cai o pano)

(infelizmente eu despertei nesse ponto, sem ouvir o meu próprio pronunciamento. Pudera, eram duas da tarde. Desculpe pelo final sem final. Os diálogos foram dramatizados, mas não perderam o sentido. Prometo sonhar em três atos completos da próximo vez)