sábado, 31 de dezembro de 2005

O ACROBATA PEDE DESCULPAS, MAS NÃO CAI

Isso não existe mais

Foi-se o tempo em que a felicidade era um bem a ser alcançado coletivamente. Foram-se as grandes greves em nome dos oprimidos, foi-se o sonho de um socialismo socialista, foi-se a social-democracia. O que vale é tudo aquilo que está na Veja e quem não concordar é retrógrado ou extremista. Os maiores nomes da política hoje são burocratas que precisam de assessores até para fazer a própria barba. Pergunte a Tony Blair qual era a cor do cavalo branco de Napoleão e terás uma resposta vaga através da secretária dele de número 4. Os grandes nomes políticos de outrora que sobreviveram enfiaram a cabeça na privada do establishment e o rapaz da foto acima está aí para não me deixar mentir. Trinta milhões de pessoas beijaram o Sapo Barbudo em 2002 e ele não virou príncipe porque preferiu deixar tudo como está há 506 anos. O importante é desideologizar nossas atitudes, disse ele em entrevista recente. Logo ele, o porta-vez da ideologia de toda uma geração, esta que agora se enxerga como mais uma em meio a tantas outras perdidas.

Aprendemos a nos acostumar. Nos acostumamos com os barracos no fim da avenida e hoje nem nos assutamos por terem se transformado no Jardim Irene. Nos acostumamos com a impossibilidade de fazer greve para aumento de salário. Greve é selvageria exótica, virou o dragão-de-komodo das relações trabalhistas. Nos acostumamos com tudo. Eu me acostumei com os seis pedintes que circulam entre a Angélica e a Paulista que antes não existiam. A nossa praga é nos acostumar.

A tolerância virou uma faca de dois gumes. Se hoje comemoramos os umbandistas e os gays, também assistimos ao fenômeno da tolerância do lixo. O funk carioca deve ser tolerado porque é um fenômeno social e cultural das favelas, já diria um desses sociologozinhos de merda, e não encarado como um retratado da degradação vividas por quem vive no morro. Então tem-se o funk como algo positivo e não como um pedido indireto de socorro por quem agoniza na latrina social da periferia brasileira.

A felicidade coletiva nunca existiu. Passamos o século XX achando que um dia ela poderia existir, mas ela não existirá. O conceito de felicidade hoje, como quase tudo nessa vida de século XXI, é individual. A ela só restou me acostumar.

Me acostumei. E dentro deste contexto, não tenho do que reclamar. Estou cercado das pessoas certas. Às vezes é bom demonstrar aos amigos o quantos eles nos acrescentam. Não há o sindicato, não há o partido, não há a Igreja. Tudo que há é o legado que você deixa entre os seus e o legado que os seus deixam em você. É por isso que apesar de toda a torcida contra que carrega os parágrafos acima, ainda assim 2005 foi um grande ano. A todos os 10 ou 15 grandes amigos que carrego comigo fica aqui o agradecimento. Se o universo vai de mal a pior, nosso microcosmo continua sensacional. O mundo foi estreito para Alexandre, um desvão no telhado é o infinito para algumas andorinhas.

domingo, 18 de dezembro de 2005

A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR

- Gorda, Gorda!!!! Quem foi que desenhou caralhinhos voadores na parede do banheiro de nosso lar??????

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

DE MÚSICAS, AVESTRUZES E TRILOBITAS

O universo era uma casca de noz naquele início de anos 80. Ao menos lá em casa. Se o pau comia lá fora com Figueiredo e Niltão Cruz, no quintal de casa quem falava era eu e tava falado, não tinha discussão. Não.

Tenho de música o que provavelmente tenho de vida. Lembro de correr pela casa no sábado à tarde vendo o meu pai ligar o então Technics, o mais poderoso long player da época, com um copo de cerveja na mão. Eu não tinha mais que 4 anos e brincava no quintal sozinho acompanhado pela voz de Maria Creuza, Luiz Ayrão e Noite Ilustrada.

Mas ninguém sabe mais quem foram Maria Creuza, Luiz Ayrão e Noite Ilustrada.
E, por um momento, nem eu.

A partir dos 13 anos, o meu lado avestruz tomou conta da casa, fez o que vem quis e saiu. O avestruz é o bicho que engole qualquer coisa. E lá fui eu ser fã de Roxette. Meu Deus, o que é o Roxette. Crash Boom Bang. Todos os meus amigos ou gostavam de música Dance - versões batistaca de músicas famosas, ao ponto de lançarem o álbum Beatles Dance - ou se vestiam de preto para cultuar a Trilobita Music: Metallica, Guns and Roses, Type O Negative. Trilobita foi um ancestral do homem moderno caracterizado pela boçalidade. Algo como deixar os cabelos cumpridos e fazer cara de mau para compensar as espinhas.

Mas não culpo a nós, avestruzes e trilobitas, já que ouvíamos o que os avestruzes e trilobitas do rádio nos ofereciam, que por sinal cultuaram outros propagadores de avestrulices e trilolbitices, e assim em uma cadeia que é tão óbvia quanto injusta e triste.

Injusta porque eu deixei de ouvir uma quantidade inenarrável de coisas boas que não chegaram até os ouvidos da minha geração. Triste porque todo esse material está fadado aos mofos, felizardos mofos que consumirão os discos antigos de gente como meu pai.

Movido pela pura curiosidade - e talvez um tiquinho de nostalgia - ouvi os discos de meu pai, agora com os ouvidos melhor preparados do que há 20 anos. Há anos comecei, com intensificação maciça nos últimos meses. Foi a coisa mais sensata que fiz nesses 24 anos e 9 meses de existência. O Kazaa foi conseqüência.

O por quê de tudo isso agora, neste blogue que dispõe a bazófia frente a tudo?

Por acaso, muito por acaso, achei uma música absolutamente simples. E bela. Cicatrizes, do Miltinho, cantada pelo MPB 4 em versão de 1972. E me bateu uma tristeza em saber que essa é só mais uma das tantas melodias que eu, se o acaso não me ajuda, não ouviria jamais.
Sou fã de rock e roqueiro por excelência. Mas chupem o rock. Chupem os Beatles, chupem o Bob Dylan. O momento é de reflexão. Porque por melhor que seja o rock, ele não chega aos pés da sonoridade e simplicidade e genialidade do samba.

Para o diabo com o Elvis. Eu fico com os meus:

- Cicatrizes, MPB4
- Partido Alto, Chico Buarque
- Silêncio de um Cipreste, Cartola
- Dança da Solidão, Paulinho da Viola
- Luz Negra, Nelson Cavaquinho (com a Beth Carvalho é a melhor)
- Canto de Ossanha, Vinícius e Baden Powell (melhor com Maria Creuza, Vinícius e Toquinho)
- Naquela Mesa, Nelson Gonçalves
- Andança, Beth Carvalho
- Samba Quadrado, Milton Carlos
- Sonho de um Carnaval, Chico Buarque
- O sol nascerá, Cartola
- Tristeza, pé no chão, Clara Nunes
- Marcha da Quarta-feira de Cinzas, Carlinhos Lyra (com Toquinho e Vinícius é bem melhor)
- Feitio de Oração, Noel Rosa - com Maria Bethânia, mas melhor com Nelson Gonçalves)
- Pecado Capital, Paulinho da Viola
- O sol nascerá, Cartola
- Quando o carnaval chegar, Chico Buarque
- Folhas Secas, de Nelson Cavaquinho, com Beth Carvalho
- Berimbau, Vinícius e Baden Powell
- Ela, Germano Mathias
- Samba de Orly, Chico Buarque, Toquinho e Vinícius

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

NÃO EXISTE PECADO DO LADO DE CIMA DO CÍRCULO POLAR

Típico exemplar de um japa coreano habitante do Ártico

Existe um vasto e intrigante repertório de lendas a respeito dos povos que vivem ao norte do Alasca, Canadá e Groenlândia. São aqueles japoneses bêbados avermelhados que moram em iglus e que usam os cachorros como meio de transporte. Ou seja, por lá o Ipiranga-Lapa late e rosna, embora provavelmente empaque menos.

Uma das lendas é o apego que os esquimós têm à 3ª idade, eufeminada por aqui de "Melhor Idade" e possivelmente chamada na Groenlândia de "Bobeô a gente pimba". Pra cima do Ártico, parece que o sujeito que passa a casa dos 70 anos e anda meio chumbadão, os mais chegados o levam até os cafundós da neve e lá o deixam morrer congelado. Motivo: ele não teria mais função no meio em que vive. Como diria o Bill Gates naquela propaganda: "Why didn´t my bank think of that?" Eu mesmo faria isso com as cinco ou seis velhinhas que todos os dias me alugam no elevador pra dizer o quanto eu sou grande, que qualquer dia me chamam pra trocar a lâmpada da cozinha ou que me perguntam se tá muito frio aqui em cima.

Imagine só que maravilha essa situação:

- Professor Erasmo, por gentileza, queira me acompanhar até aquele precipício...

***

Dizem também que um sujeito que vive na neve é capaz de distinguir 17 tonalidades diferentes da cor branca. Isso se deve ao fato dele só enxergar um ambiente branco o tempo todo, o que desenvolve a capacidade de adaptação. Conclui-se que para esse sujeito um caleidoscópio provavelmente teria efeito alucinógeno. Jogue-o numa piscina de cocaína que ele lhe desenhará histórias em quadrinhos.

Outra: o esquimó é, antes de tudo, um corno. Todo homem que visita a choupana de um esquimó é convidado pelo próprio a manter relações carnais com a mulher dele. O pobrema: o concurso de Miss Esquimó costuma terminar em zero a zero. Dizem que o iéte é na verdade uma mulher groenlandesa, mas isso nunca ninguém confirmou. Além da maledicência física, há o detalhe de que os esquimós se utilizam de uma mesma roupa costurada ao corpo para todo o inverno, que costuma durar 363 dias por ano, um pouco mais em ano bissexto. Isso possivelmente transforma as axilas das moças em uma fauna amazônica com cheiro de pomarola. Pelo que me lembre, encarei coisa parecida no carnaval de 1998, mas não pretendo repetir a dose.

Não adianta. Eu tento, mas nunca vou conseguir entender a cultura alheia. É por isso que eu bebo.