Conversando via Messenger com Laura Chuchuvarger sobre as peculiaridades do xadrez, cheguei a conclusões chocantes. O fato é que o xadrez é um jogo extremamente sexual.
Explico.
Primeiramente, há um grande fetiche entre os enxadristas: comer a rainha. Obsessivo, eu diria. O problema é que normalmente a rainha é que come todo mundo, o que talvez seja o principal alicerce deste fetiche. Há também a questão da luta de classes, que pode ser inserida dentro da conotação sexual da coisa. Por exemplo: o peão normalmente não come ninguém. Quando come, a vítima costuma ser apenas outro peão, o que daria um bom enredo de música do Zé Ramalho. Mas como tudo vale a pena se a vingança não for pequena, quando o peão chega até o fim do tabuleiro, ele ascende de classe. O jogador pode escolher qualquer peça para substituí-lo, e normalmente a escolhida é... a rainha. O peão, quando ascende, não vira rei, e sim rainha. Tanto sexualmente quanto socialmente isso é chocante, pois o peão só terá poder se mudar de sexo, e também somente ao substituir seu cromossomo Y por outro X é que ele tem uma vida sexual intensa e variada. De Zé Ramalho a Abba (When you get the chance, you are the dancing queen...). Logo, chegar ao fim do tabuleiro representa para a classe dos peões o mesmo que o programa Um Dia de Princesa representa para a Vila Ré: tudo. "Peões de todos os tabuleiros do mundo, uní-vos", já diria a Ru Paul.
Mas a conotação sexual embutida no xadrez não pára por aí. Originalmente os bispos cercam o casal real pois são os conselheiros do rei e da rainha. Uma pitada de teoria da conspiração me deixa com uma vontade de acreditar que, na verdade, o bispo só está entre a rainha e o cavalo para controlar o ímpeto libidinoso da Poderosa para com o animalão. O bispo está lá, no ouvido dela a lembrar: "Com peão eu perdôo, mas com bicho é pecado mortal". Sempre ouvi falar de certos costumes exóticos da realeza medieval.
E o que seria então essa peça enigmática chamada Torre? Na minha humilde e sexualizada interpretação, trata-se de um voyeur. O sentinela, lá de cima e no canto do tabuleiro, é o único capaz de revelar em detalhes todos os movimentos de todas as peças. Nada escapa. Rei com bispo, cavalo com rainha, peão com peão. Come on, babe, walk on the wild side. A Torre é a fonte que viu o que ninguém vê, a Garganta Profunda do tabuleiro, aquela que manda uma flecha no quarto do rei com um bilhete: "Eu sei o que você fez, e sei quem você é". Embora seus movimentos não estejam entre os principais, há uma certa tensão enquanto as torres ainda estão no jogo. A torre sabe demais. Não interessa a ninguém que ela permaneça na partida.
Enfim. Compartilhando toda essa teoria com um renomado pederasta amigo meu, Felipe Corizza, tive como resposta um único comentário:
- Se você tá certo eu não sei, mas meu sonho é ser o peão em frente ao cavalo. Um bicho daqueles no meu cangote me causaria arrepios. Sorry, periferia.
Nunca mais ele vai jogar xadrez do mesmo jeito.