sábado, 26 de março de 2005

DA ANDROGENIA ENXADRÍSTICA

Conversando via Messenger com Laura Chuchuvarger sobre as peculiaridades do xadrez, cheguei a conclusões chocantes. O fato é que o xadrez é um jogo extremamente sexual. 

Explico.

Primeiramente, há um grande fetiche entre os enxadristas: comer a rainha. Obsessivo, eu diria. O problema é que normalmente a rainha é que come todo mundo, o que talvez seja o principal alicerce deste fetiche. Há também a questão da luta de classes, que pode ser inserida dentro da conotação sexual da coisa. Por exemplo: o peão normalmente não come ninguém. Quando come, a vítima costuma ser apenas outro peão, o que daria um bom enredo de música do Zé Ramalho. Mas como tudo vale a pena se a vingança não for pequena, quando o peão chega até o fim do tabuleiro, ele ascende de classe. O jogador pode escolher qualquer peça para substituí-lo, e normalmente a escolhida é... a rainha. O peão, quando ascende, não vira rei, e sim rainha. Tanto sexualmente quanto socialmente isso é chocante, pois o peão só terá poder se mudar de sexo, e também somente ao substituir seu cromossomo Y por outro X é que ele tem uma vida sexual intensa e variada. De Zé Ramalho a Abba (When you get the chance, you are the dancing queen...). Logo, chegar ao fim do tabuleiro representa para a classe dos peões o mesmo que o programa Um Dia de Princesa representa para a Vila Ré: tudo. "Peões de todos os tabuleiros do mundo, uní-vos", já diria a Ru Paul. 

Mas a conotação sexual embutida no xadrez não pára por aí. Originalmente os bispos cercam o casal real pois são os conselheiros do rei e da rainha. Uma pitada de teoria da conspiração me deixa com uma vontade de acreditar que, na verdade, o bispo só está entre a rainha e o cavalo para controlar o ímpeto libidinoso da Poderosa para com o animalão. O bispo está lá, no ouvido dela a lembrar: "Com peão eu perdôo, mas com bicho é pecado mortal". Sempre ouvi falar de certos costumes exóticos da realeza medieval. 

E o que seria então essa peça enigmática chamada Torre? Na minha humilde e sexualizada interpretação, trata-se de um voyeur. O sentinela, lá de cima e no canto do tabuleiro, é o único capaz de revelar em detalhes todos os movimentos de todas as peças. Nada escapa. Rei com bispo, cavalo com rainha, peão com peão. Come on, babe, walk on the wild side. A Torre é a fonte que viu o que ninguém vê, a Garganta Profunda do tabuleiro, aquela que manda uma flecha no quarto do rei com um bilhete: "Eu sei o que você fez, e sei quem você é". Embora seus movimentos não estejam entre os principais, há uma certa tensão enquanto as torres ainda estão no jogo. A torre sabe demais. Não interessa a ninguém que ela permaneça na partida. 

Enfim. Compartilhando toda essa teoria com um renomado pederasta amigo meu, Felipe Corizza, tive como resposta um único comentário: 

- Se você tá certo eu não sei, mas meu sonho é ser o peão em frente ao cavalo. Um bicho daqueles no meu cangote me causaria arrepios. Sorry, periferia. 

Nunca mais ele vai jogar xadrez do mesmo jeito.

quarta-feira, 23 de março de 2005

A REVOLUÇÃO DADAÍSTA ESTÁ CHEGANDO

Paris, França. Carré Marshall Deodore com a Avenue Angelique, uma tarde qualquer da semana passada. O farol apontava a cor verde para o distintíssimo pedestre que atravessava a rua, salvo improvável caso de daltonismo do narrador. E talvez o narrador padeça mesmo de tal prognóstico, pois um Corsa a 20 quilômetros por hora insistia em seguir em frente pela avenida. O distintíssimo pedestre finca seu par de pezões no chão pois sentiu algo de estranho no ar. Aparentemente não havia ninguém dirigindo o Corsa, o que o fez suspender a sobrancelha direita. E quando o carro passou em sua frente, a charada caiu prostrada no chão: havia, sim, alguém ao volante. Ou, melhor, uma parte de alguém, pois o que ali se via era uma reluzente barriga humana de aproximadamente um metro e trinta e cinco centímetros de altura. Não, não se trata de chacota, já que o autor destas palavras pesa desnecessários quilos a mais. Era, de fato, uma barriga humana. Emancipada de alguém, talvez, por questões de relacionamento estético - sofro de problema similar com meu voluptuoso pega-rapaz - ou seria uma barriga fugitiva de uma mesa de cirurgia, onde seu dono se preparava para a redução de estômago? Caso a segunda hipótese seja a correta, tem-se aí um caso de heroísmo abdominal, pois para sobreviver, a barriga fugiu de seu dono e do hospital, furtou um Corsa no estacionamento e agora tenta correr a 20 por hora para onde possam deixar suas tripas intactas e em paz.

E foi ali, a observar aquela barriga em sua lúdica flacidez e transcendental adiposidade, tentando atravessar o sinal vermelho, que o distintíssimo pedestre pensou no quanto o mundo anda desprovido de valores e sentido. Flashes do presidente da Câmara Severino Cavalcanti imediatamente invadiram seus neurônios ao som interno de Cabeça de Bagre, dos Mamonas Assassinas (loucura, insensatez, estado inevitável, embalagem de iogurte inviolável...). É quando o distintíssimo pedestre pára a se indagar por algo ainda mais non sense: onde estará Zélia Cardoso de Melo? Foi além: onde estará o filho de Zélia Cardoso de Melo com Chico Anysio? Eis aí um sujeito de avassaladora complexidade. Se não for um satã, um militante do PP ou um futuro presidente do FMI, esse garoto certamente dará para salvador da humanidade, um papa que faça sexo ou algo assim. De um filho de Zélia com Chico Anysio espera-se tudo ou nada.

- Meu Deus, que mundo é esse em que barrigas dirigem, severinos mandam e anysios e zélias se acasalam? - pensou o distintíssimo pedestre. Pôs-se a chorar copiosamente na sarjeta, em uma vã tentativa de entender o mundo em que vive. Foi quando em cartomântica visão do futuro, breve futuro, ele viu um tempo onde as pessoas sãs choram na beira das calçadas, um odor de incenso marlenefortunal toma por assalto o ambiente, papas babam e ursos dançarinos fazem mais sucesso que Beethoven.

Mordei-mos uns aos outros. A revolução dadaísta está chegando. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nossos pecadores, amém.

terça-feira, 15 de março de 2005

AMOR, ESTRANHO AMOR

São pouco mais de quatro horas da tarde e acabei de almoçar em frente à TV. A única coisa assistível nesse horário é o Cocoricó, e lá estava eu observando as galinhas com roupas coloridas, vegetais falantes e cocôs que cantam. 

É quando reparo na estranha amizade entre Júlio, o único humano do programa, e Alípio, o cavalo chucro e vermelho. Em dado momento, a dupla dinâmica - a associação com Batman e Robin aqui não é mera coincidência - está no celeiro junto das galinhas. Ambos comunicam as aves de que vão tomar banho no rio: 

- Vamos, Alípio, estou tão empolgado! Deixe essas bobas aí. 

Corta. Em uma cena seguinte, as galinhas vão até perto do rio. Não há cenas da dupla dentro dágua, só das galinhas por perto ouvindo o que se passa lá dentro: 

- Ai, Alípio, como isso é bom! 

- Ó Júlio, nós estamos nos divertindo tanto, não? Eu não agüentava mais esse calor... 


Silêncio ensurdecedor.

segunda-feira, 14 de março de 2005

NADA CAI DO CÉU, NEM CAIRÁ... (10x)

- Uma sexta-feira e pessoas felizes: http://horasdeocio.fotoblog.uol.com.br/photo20050313211100.html. E como fica aí a indicação.

- Angelina Jolie: "Brad Pitt é um homem casado. Eu nunca dormiria com um homem casado. Eu já tenho um amante em Jundiaí. Grande, sábio e sensual. Eu não preciso do Brad". Concordo.

- Só pra constar: devido a um problema de ordem computadorística, não consigo ler os comentários deste blog nem linkar nada por aqui. Mas garanto que teremos um post grande até o final da semana.

- Severino Cavalcanti: "Câmara não será supositório do governo". Será apenas a tênia solitária.

- Este blog passará por uma reforma gráfica em breve. O editor e o webmaster já conversaram sobre o assunto. Chupa, Hans Donner.

- Folha de S. Paulo: "Apesar de a Record não ter gostado da briga de Netinho de Paula com a mulher (ele foi acusado de agressão física), o programa Domingo da Gente continua mantendo os oito pontos no Ibope que dava antes". Felipe Corizza: "Se soubesse que ele batia, tinha mandado minha carta pro Um Dia de Princesa há mais tempo". Mexe, ordinária.

- A moda agora é invadir kombis. Eu invado kombis. Invadir kombis é legal.

- "Agora diga tchau, Lilica.

- Tchau Lilica."

sábado, 12 de março de 2005

BONITINHA MAS ORDINÁRIA

EDGARD - Escuta, Doutor Werneck. E você também, Peixoto. (OLHA PARA WERNECK) Você não é doutor não. E você, olha! Eu não vou me casar com sua filha. Não vou, não! E saio do emprego. Você enfia os 11 anos, Doutor Werneck, a estabilidade, tudo! E FIQUE SABENDO: SOU UM EX-CONTÍNUO, E O SENHOR, UM FILHO DA PUTA! (NUM BERRO MAIOR AINDA) : SEU FILHO DA PUTA!

quarta-feira, 9 de março de 2005

DESMEMÓRIA

erca de uma ano atrás, quem era estagiário da Abril foi obrigado a assistir uma palestra com o diretor de redação da Revista Contigo. Entre eles, essa figura distintíssima que escreve estas linhas. 

Qualquer tipo de fofoca me incomoda. Fofoca na imprensa, então, é ultrajante. Ao observar o redator dissertando nababescamente sobre a função da revista que dirigia, me irritei e esbocei um diálogo onde questionava o papel da imprensa que faz futrica. Ele respondeu tudo, foi atencioso quando muita gente me mandaria às favas. Alguns concordaram comigo, mas houve quem me chamasse de preconceituoso e prepotente após a palestra. Devo deixar claro que respeito quem trabalha na imprensa de celebridades, mas ela não é pra mim. Pois bem, o argumento que o homem da Contigo utilizou é que há um mundo de celebridades que vive da imprensa. Os "artistas" - e por isso entenda-se as angélicas, hucks e afins - adoram aparecer, vivem disso, dão festas só pra poder estar na Ilha de Caras na próxima vez, ou mesmo divulgar um trabalho. Foi então que ele disse as palavras abaixo. Não é literal, mas é praticamente isso: 

- A Contigo só trata desse tipo de artista, aqueles que se encaixam nesse esquema. Você não vai ver, por exemplo, o Chico Buarque nas páginas da Contigo. Pra dizer que ele nunca apareceu, uma vez demos uma nota dizendo que ele ia fazer um show com a presença de alguns famosos. Fora isso, não. Ele não pertence ao esquema de celebridades, não temos paparazzis na cola dele. Então, o deixamos em paz. 

Só pra lembrar.

terça-feira, 8 de março de 2005

CRY BABY CRY

TV Gazeta, última terça-feira à noite. Ronnie Von, Pepeu Gomes e Eduardo Araújo cantavam Help, dos Beatles, a plenos pulmões. A música parecia mesmo pedir ajuda. 

Desde então me encontro em um quadro depressivo não estabilizado, que não deverá passar até eu achar meu Album Branco novamente. 

No final, Ronnie Von, o apresentador, convidou todos para voltar em outra oportunidade e repetir a dose. 

Temo nunca mais ser o mesmo. Me dêem licença que vou ali cometer suicídio e volto já.

terça-feira, 1 de março de 2005

PELO FIM DO CACÓFATO MALDITO

(este é um post que não foi publicado no domingo à noite porque o Blogger estava com pau) 

O título desse post, que mais parece nome de filme de terror - O Cacófato Maldito - é pra mostrar ser necessário tecer algumas palavras cabeludas a respeito do Oscar. Felizmente, isso já é lugar-comum entre as pessoas elegantes. Mas como não tenho nada para fazer agora, não estou com sono, todas as mesas-redondas de futebol já acabaram e a TV à minha esquerda insiste em jogar em meus ouvidos os comentários felomenais do José Wilker - isso foi uma ironia -, não me resta outra opção. 

Em primeiro lugar, Oscar não é nome de prêmio, é nome de tio. Não me venham com aquela história de que o tal Oscar era marido de não sei quem que tinha a ver com a primeira premiação lá nos anos 30. Oscar (Oscár, em verdade) continua sendo nome daquele tio que você só vê no Natal e que sempre aparece com a camisa do Curíntia, toma um porre e termina a ceia vomitando mo ralo da área de serviço. 

Pois bem. Não bastasse o nome, a cerimônia é um desânimo que só. Tá mais pra convenção do Partido Republicano do que pra uma festa em si. O palco enorme, os apresentadores lendo aquele texto chinfrim, que parece sempre o mesmo, o apresentador e suas piadas prontas, enfim, tudo muito fake e que não muda há muito tempo, se é que um dia mudou. Dessa vez até tentaram macaquear algumas coisas, como fazer a apresentação e a premiação ora na platéia ora no palco. Essa última é a melhor: os candidatos surgem por trás das cortinas e ficam esperando anunciarem o vencedor. Lembrou aquele programa do Sílvio Santos onde todo mundo fica no palco, ouve o Abrava perguntar algo para depois caminhar em direção ao pilar que contém a resposta correta. Lembra também uma espécie de Quer Namorar Comigo cinematográfico. Só faltam os depoimentos: 

- Meu nome é Martin Scorscese, dizem que sou bonito, inteligente, divertido e que fiz um filme bem legal. Sou bem romântico também. Eu to aqui de pé nesse palco junto de meus concorrentes porque quero uma estatueta pra botar em cima do armário lá de casa. Espero ter agradado. Fica aí a indicação. 

(este é um depoimento fictício. Scorscese não foi um dos que pagaram o mico de ficar lá no palco pra saber se receberiam o prêmio ou não. Pelo menos não até o momento em que escrevo isso) 

Há também uma coisa que venho pregando há anos, mas que infelizmente ninguém em Hollywood me dá ouvidos (falta modéstia pra essa gente!): gravata borboleta não é legal. Não confie em ninguém que use gravata borboleta que não seja garçom. Smoking também não ajuda em nada. As atrizes, todas com síndrome de Cinderela, aparecem com aqueles vestidões de cauda longa. É quase uma festa de debutantes. Nada muito agradável. 

É por isso que proponho aqui a substituição da estatueta nababesca de Los Angeles por uma nova premiação, a ser anunciada aqui em SorryPeriferia. Em vez do Oscar, teríamos o Almir. É tudo nome de tio mesmo. Além do que, Almir evita o cacófato: leia rapidamente "The Oscar goes to...", diminuindo a intensidade do "r". Com o Almir no lugar do Oscar, isso não é problema, é solução. Fica assim: no meio do semestre, este hebdomadário virtual reunirá seu editor, seu sub-editor, seu office-boy e sua tia do cafezinho - porventura são todos a mesma pessoa - para tomar um porre e julgar todos os filmes que assistiram neste semestre. Quando tudo estiver pronto, no final de junho, voltaremos ao assunto aqui, com os premiados e suas notas. Azar de quem lê isso. Sorry, periferia.