sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O PMDB, A JACA E A MARI ALEXANDRE



O ato de desmoralizar é, em todos os seus sentidos, como a jaca: não é originário do Brasil, mas aqui veio e aconchegou-se tão confortavelmente que até já faz parte da nossa cultura. Não fosse verdadeiro este fato e as jacas não teriam tornado-se um problema ambiental - onde a jaca nasce, acaba com tudo ao seu redor. Da mesma forma, quando o mundo tenta usar a internet para difundir o conhecimento humano através da Wikipedia, eis que aqui no Salvelindo Pendão o que faz sucesso mesmo é a Desciclopédia que, por essência, desmoraliza qualquer coisa. E eu, como brasileiro e patriota, declaro: a Desciclopédia é muito melhora que a Wiki. Este é um país que vai pra frente - sorry, Jimmy Wales.

E, como diriam os Mamonas Assassinas, na política está o futuro do país (cala a boca e tira o dedo do nariz). Tudo que chega ao poder por estas bandas automaticamente se desmoraliza. O PT, que um dia já agiu como o arauto da moralidade política, hoje não poucas vezes caminha pelos esgotos. Antes do PT tivemos oito anos de reinado do PSDB, que foi fundado pelos "puros" do PMDB que não admitiam o pé atolado na jaca (olha ela aí de novo) do partido e resolveram caminhar por conta própria - e, no entanto, beberam da mesma água até ficarem completamente bêbados.

Antes do PSDB (e também antes da dobradinha Collor e Itamar, tão esquecidos pela História quanto Pepê e Neném), quem surgiu com tudo e terminou com nada foi o PMDB. Ele é a Mari Alexandre do Congresso Nacional. Lembra da Mari Alexandre? Por ela, jogadores de futebol e cantores de segunda linha eram capaz de estapearem-se na baixa imprensa. Toda vez que, em final de temporada, são realizados aqueles amistosos do tipo "Amigos do Denílson contra Amigos do Carlos Alberto", da qual participam cantores e similares, eu sempre sugiro o amistoso "Namorados jogadores da Mari Alexandre contra Namorados cantores da Mari Alexandre" (e, que fique claro, ela que namore quem e quantos quiser). Pois imagine que, para conquistar títulos, os jogadores dependessem de namorar ou não a Mari Alexandre. Este é o caso da situação e da oposição em relação ao PMDB na política.

Em Brasília, todo mundo quer o PMDB por conta de uma herança indireta da ditadura militar. Quando os generais estavam por colocar o pijama, todo mundo que era contra eles (e muitos que por muito tempo foram a favor) acabaram migrando para o novo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, que, por isso, politicamente ganhou músculos de pitbull. Formou-se ali um tremendo aparato partidário sem direção política alguma, com facções divididas em senhores feudais: o marimbondo de fogo José Sir Ney no Maranhão, Quercião e seu queixo de tótem da Ilha de Páscoa e Michel Temer em São Paulo, Joaquim Roriz no Distrito Federal, Renan Calheiros nas Alagoas, Garibaldo Alves, Jáder Barbalho e todo uma corja deselegante espalhada pelo resto do país.

O resultado é que, desde então, quem governa o país é obrigado a submeter-se a humilhações perante este partido, que sempre dá o jeito de, tendo a mão estendida em sua frente, abocanhá-la até chegar aos ombros. Quem consegue aglutinar o maior número de caciques, conquista duas coisas fundamentais: primeiro, o apoio regional - se o Quercião não quer dizer muito aqui, o Garibaldo Alves no Rio Grande do Norte é garantia de popularidade - e, segundo e mais importante, apoio para decisões no Congresso. Durante as eleições, ter a sigla PMDB em sua coligação significa alguns minutinhos diários a mais na propaganda eleitoral gratuita, o que faz toda diferença desse mundo.

O problema é que, para agradar aos caciques, negocia-se cargos em ministérios, segundo escalão de governo, estatais. Você não vai ouvir falar de nenhum projeto do PMDB para o país, mas ele estará lá, mamando nas tetas de tudo que render publicidade na imprensa e, conseqüentemente, votos.

Sempre achei que o pior da política nacional fosse o PFL. Ledo engano. O atual DEM está lá, quietinho, reacionário como sempre. O PMDB é que é o pé de jaca moral da nossa política, a Mari Alexandre com músculos de pitbull que precisa ser eternamente alimentada sem nada dar em troca para o país. A todos os filiados ao PMDB eu peço, do fundo do coração: façam do Brasil um país melhor. Apodreçam como jacas.

* Mari Alexandre com cara de Sarney produzida por Fê Nakaza.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

RAPSÓDIA PARA CICATRIZAÇÃO DE GASTRITE

O trem margeia um Rio Pinheiros que está a um metro de transbordar, um moleque ranheta enfia o dedo no nariz, uma senhora muito gorda tem as tetas balançadas de maneira não muito erótica com os soluços dos trilhos e eu tento ranquear as grandes instituições cretinas do nosso país e da humanidade em geral.

A chuva aperta, o trem hesita, Presidente Altino parece ficar mais longe. Sempre demora a baldeação. O dedo empolgado do menino ranheta parece puxar os olhos dele pelas narinas e as tetas da senhora obesa já não pulam mais. Alguém liga para alguém para dizer que vai atrasar. E após uns 25 minutos com minha questão, organizo ali mesmo uma lista rápida das grandes instituições a serem combatidas no momento: israelenses com síndrome de perseguição e palestinos homicidas, o câncer do José Alencar, motoristas que raciocinam com a buzina, o São Paulo Futebol Clube, o Pedro Bial correndo atrás de tudo que não é saúde e paz.

O trem parte de Presidente Altino, os vagões não estão lotados, janeiro é uma benção, pensei, mas logo despenso porque janeiro também é o mês das chuvas, e por isso o trem vai a 20 por hora até que pára totalmente antes de chegar na Barra Funda. São 20 minutos em que ligo o MP3, ouço Wallflowers, desligo o MP3, penso que já gostei mais de Wallflowers, penso que estou atrasado, penso que vou incluir a precariedade do transporte público na lista que fiz há pouco, ouço o maquinista dizendo que vamos voltar à estação Lapa porque o trilho está inundado, penso que estou fudido e daí não penso em mais nada.

Saio de papetes encharcadas na chuva em plena Lapa a procura de um táxi para chegar ao Santa Cecília. Lembro de quando adorava jogar bola na chuva no pátia da Igreja do meu bairro em Jundiaí e quase pude sentir o cheiro do jasmin-manga que ali havia quando jogávamos até anoitecer.

Ensopado, entro num Siena cujos vidros imediatamente embaçam com minha presença. Lembro como tenho birra de taxistas, mas aquele era bonzinho e não pode fazer nada para evitar o caos que se formou porque a Avenida Pompéia estava inundada. Na Desembargador do Vale, duas amigas de uns 30 anos fugiam da chuva de mãos dadas enquanto gargalhavam, contrastando com os motoristas que mordiam seus volantes para conquistar avanços milimétricos nas vias entupidas da cidade.

Vinte reais e dois quilômetros depois, deixo o táxi e vou sentindo a garoa na cabeça até onde der pra ir, ou seja, até metade da rua Turiassu, onde começa a chover forte e fico 15 minutos esperando ônibus ao lado de uma senhora que ensinava um menino negro muito novo e de mochila nas costas a pegar o ônibus correto.

Chego em casa três horas depois de deixar o escritório onde eu trabalho e não fico rico fazendo "ploft" com as papetes no saguão do prédio, com o MP3 ensopado, a camisa encolhida, e a estranhíssima certeza absoluta de que me diverti horrores passando por tudo aquilo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

PARABÉNS, Ó BRASILEIROS, JÁ COM GARBO VARONIL

(ou um post simplista sobre o funcionamento das teorias econômicas)

Aos apedeutas de plantão que vociferam eternamente que o Brasil é um país atrasado, sempre à margem da economia mundial, vos digo: nunca estivemos tão à frente. A notícia de que a General Motors foi superada em vendas pela Toyota nos EUA - era a líder do mercado desde 1932 - só joga lenha na fogueira dos boatos de que a própria GM, a Ford e a Chrysler vão fechar o lojinha antes que 2010 dobre a esquina.

Em 1994, após uma série de solavancos econômicos, tentativas de socorro junto ao governo federal e estupidez administrativa, o empresário João do Amaral Gurgel, dono da Gurgel Motores - aquela uma dos carrinhos com porta transparente -, baixou os portões da fábrica de Rio Claro. Pois hoje o exemplo das grandes montadoras norte-americanas nos mostra que João do Amaral é, na verdade, um visionário: foi nababescamente à falência 15 anos antes de tal ocorrência virar moda no Primeiro Mundo. Um gênio inovador.

Jactemos-nos. O ruim de hoje é a chacota para o péssimo de amanhã.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

BISPA SÔNIA: "MEU MUNDO CAIU"

Não obstante - sempre quis começar um texto com esta expressão - a aids e o refrigerante, a gripe, a gonorréia e a água no joelho, muitos pobres acabam virando evangélicos e doando muito do pouco que ganham para pessoas que, como a Bispa Sônia, têm ligação direto lá com o andar de cima. O problema é a interpretação deste "andar de cima": a rapeize acha que é Deus, mas na verdade são os bancos suíços, casas em Miami e tudo aquilo que você já sabe.

Aliás, só queria abrir um parágrafo de adendo: é comovente que as igrejas evangélicas façam vigílias para empresários, mas nunca se vê vigília para lixeiros, domésticas, etc. Fecha parágrafo de adendo.

Agora o mundo da Bispa Sônia, literalmente, desabou. Mas como é de praxe desde que o mundo é mundo, quem se dá mal são os pobres: nove pessoas saíram da vida para entrar na estatística, todos Silvas, Santos, Ferreiras, etc. A pergunta que fica é: com o açude de dinheiro que a Igreja Renascer arrecada, não dava pra companheira Bispa Sônia botar um teto decente no templo? Ô, raça.

Ah sim, voltei. Feliz Ano Novo, Feliz dia de Reis, Feliz Carnaval e não se esqueça de usar camisinha nesta Páscoa.