quinta-feira, 29 de maio de 2008

UMA OBSERVAÇÃO PERTINENTE

Sabe o que eu considero uma das grandes invenções da humanidade? A escada. Não a escada Magyrus, nem a de beliche. Me refiro a qualquer escada de cimento, barro ou terrão que tem por aí. Imagine uma convenção de homens de neanderthal ou cro-magnon discutindo a inviabilidade de se estar aqui embaixo e querer chegar ali em cima. Aí chega um e diz: “Se a gente criar uma elevação de uma dúzia de polegadas na frente desta outra elevação, e assim sucessivamente, não acham que a gente chega ali?” Provavelmente foi quando construiu-se o primeiro sobradinho da humanidade, fez-se o primeiro churrascão na laje e o cidadão em questão foi eleito o funcionário do mês em Stonhage.

Bem, eu não tenho a menor idéia do porquê eu estou falando disso.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

MAIO DE 68

Embalado pelo estupor efemérico que este mês apresenta em cada ano que acaba em 8, SorryPeriferia resolveu entrevistar aquele que é a fonte principal de 75 de cada 20 matérias sobre tudo o que ocorreu entre abril e junho do oitavo ano dos 60: Zuenir Ventura.

SP: Fala aí, seu Zuenir, firme nesse guidão?

ZV: Opa, só azarando a rapeize. Satisfação muito grande dar entrevista pra esse blog, do qual eu e toda minha geração somos fãs desde o Golpe, viu?

SP: Fico feliz, fico feliz. Seu Zuenir, já vou logo perguntando: qual a sua opinião sobre maio de 78?

ZV: Ããããã.... você diz.. maio de 68?

SP: Não, não, todo mundo te pergunta isso. Na verdade eu queria saber a sua opinião sobre maio de 78 mesmo.

ZV: Bem, deve haver algum engano. Eu só dou entrevistas sobre maio de 68. Não sei nada sobre maio de 78.

SP: Ah não, seu Zuenir. Vamos lá, uma opiniãozinha só. Vai ser bom para a sua imagem, que virou sinônimo apenas de sexo, drogas, MPB e barricadas. Vou lhe ajudar: maio de 78 tinha a Dancing Days, o John Travolta, a Copa da Argentina...

ZV: Ah sim! Havia realmente algo importante! Eram as comemorações dos dez anos de maio de 68!

SP: Não, não, bróder. Cê não entendeu: estou dando uma oportunidade para você se desvencilhar dessa loucura que deve tomar conta da sua vida a cada dez anos, que é falar sobre maio de 68. Você gostaria de falar de outra coisa? Pode escolher...

ZV: Bem... nesse caso, podemos dialogar sobre os preparativos que ocorreram em abril de 68...

SP: ...

ZV: ...ou talvez sobre a limpeza das ruas que teve início em 1 de junho de 68...

SP: Ok. Chega de efemérides. Vamos falar de outra coisa. Diz aí a sua opinião sobre o DJ Marlboro.

ZV: Quem?

SP: O DJ Marlboro, aquele um pra quem você fez um depoimento no Arquivo Confidencial do Faustão...

ZV: Ah sim! O DJ Marlboro! Teve grande importância em mario de 68...

SP: Oi?

ZV: Sim, foi o primeiro artista a evocar o Batidão Revolucionário lá no aparelho do Marighella! O Jefferson del Rios tava lá quando o Geraldo Vandré ficou puto com o ritmo de funk de caminhando e cantando e seguindo a canção. Mas a Marília Pêra ficou doidona, desceu até o chão e depois se trancou no quarto com o Zé Dirceu, que tava rouco depois de fazer aquele discurso na Cinelândia em cima do Aero-Willys do Vianinha...

SP: Ok, vamos encerrar por aqui. Uma última pergunta, seu Zuenir: ao te dar este nome, seu pai queria deixá-lo eternamente em último na chamada da escola?

terça-feira, 20 de maio de 2008

UM ADENDO AOS POSTS ABAIXO: A ÁUSTRIA LÊ SORRYPERIFERIA

Você pode não acreditar, mas o SorryPeriferia é lido em outros países.

E você pode acreditar menos ainda, mas a Áustria é o quinto país que mais lê SorryPeriferia. Pois é.

De acordo com o ranking do BlogCounter, dos 13386 visitantes únicos deste blogue desde que instalei o sistema (há 11 meses) até o momento em que escrevo este post, 46 deles vieram de um domínio austríaco.

Na ordem do ranking de acessos estão Brasil (óbvio), Estados Unidos, Portugal, Itália e Áustria.

Eu ia dizer que não posso me surpreender se a Gestapo vier bater à minha porta qualquer dia desses, mas, em nome dos austríacos legais, que certamente existem, eu não vou dizer.

Tá, eu já disse. Eu não ia perder essa piada.

OS PORÕES DE UMA NAÇÃO - Parte 2


Flagrante da Miss Áustria 1939*

É isso o que dá demorar pra terminar essa história de falar mal da Áustria. Neste ínterim (sempre quis usar esta palavra) entre o post anterior e este de agora, um austríaco doidão resolveu poupar a família de sua própria ruína financeira. A solução que ele encontrou: liquidar a machadadas sua mulher e filha, claro. Na seqüência, pegou o carro e foi até a casa dos pais para selar-lhes o mesmo destino e, por fim, fez uma visitinha básica e definitiva à casa dos sogros com o seu novo grande amigo, o machado. O homicida trabalhava no mercado financeiro. Pensamento rápido e solução pragmática é isso aí. Queria ver o Roberto Justus demitir esse cara...

(Sobre este caso clique aqui)

O grande lance desta história é o seguinte: tem-se lá um país de quase 9 milhões de habitantes, todos razoavelmente ricos e corados vivendo em suas cidadezinhas tranqüilas com vista para as neves permanentes dos Alpes. Tirando pelos porões e machadadas, o Império do Leste (do alemão Österreich, ou Áustria), havia sido manchete poucas vezes nas últimas décadas. Uma delas, para discutir um grande problema do país, que nada mais é do que saber se os caminhões que chegam dos países vizinhos devem pagar pedágio ao cruzar os Alpes, uma vez que eles contribuem para o asfalto local degringolar.

No papel, tudo é lindo, mas, lá dentro, bem no fundo - eu ia dizer... lá no porão?? - existem problemas mais delicados. Como diriam os Racionais MC: você sai do gueto, mas o gueto não sai de você (a palavra gueto, porventura, é algo que deve incomodar muitos austríacos, como os judeus bem sabem). Há, digamos, um gueto moral que paira sobre o país lá se vão mais de 60 anos. Pelo fato daquele menino antipático de bigodinho estranho ser austríaco ou não, o povo desse país é o menos conformado com o resultado do fim da Segunda Grande Guerra.

Explico.

Discutíamos no bar eu e os amigos Savarese e Leandro sobre tudo isso. Depois, já em casa, às quatro da manhã, toca o telefone. Era um Beguoci atônito: "Vives, acorda." Senti as partículas expletivas tomarem conta da linha telefônica. "Tô lendo um livro agora que fala exatamente daquilo que a gente falava no bar há pouco. Sabe? A Áustria, cara, a Áustria! É o apocalipse em forma de nação! Escuta isso, cara, escuta! (é claro que estou acrescentando um tom rodrigueano ao nosso diálogo, o apocalipse ficou por minha conta)". Contou-me Beguoci que Tony Judt, o autor do livro sobre a Europa no pós-Guerra, afirma que a população austríaca compreendia um décimo de pessoas de todo o Terceiro Reich. No entanto, um em cada dois soldados nos campos de concentração era austríaco. Ui.

Mais que isso: pesquisa realizada em 1991 apontou que 50% da população do país considerava os judeus responsáveis pela perseguição que eles sofreram no passado. O resultado disso: anos depois, o povo austríaco elegia um primeiro-ministro declaradamente antipático aos judeus chamado Jörg Haider. Que conste nos autos: além de minimizar o caos nazista e discriminar imigrantes, Haider usava deselegantes gravatas borboletas.

Pois então fica a sugestão para o nobre primeiro-ministro austríaco Alfred Gusenbauer, fortemente empenhado em mudar a imagem de seu país, para que use alguns euros para um tratamento psicológico coletivo por toda a nação. Façamos os austríacos se libertarem dos fantasmas do passado e entender de uma vez por todas que Hitler era um homem mau, o nazismo não era legal, os imigrantes são legais (sem trocadilho) e que as pessoas podem e devem dar oi ao vizinho sem medo de que lhe perguntem o que seus antepassados fizeram entre 1939 e 1945. Psicologia é a solução. Afinal, Sigmund Freud nasceu na Áustria. Era aí que eu queria chegar.

* Foto roubada do Ground Control.

terça-feira, 13 de maio de 2008

OS PORÕES DE UMA NAÇÃO - Parte 1


Josef Fritzl e seu olhar de rothweiller

Existem países e países nesse mundo. Para cada grande país europeu (grande num conceito amplo da coisa), por exemplo – Inglaterra, França, Alemanha e, com boa vontade, a Itália e a Espanha -, existem outros tantos pequenos que pecam pela absoluta falta de carisma.

Quando pensava, por exemplo, na Bélgica, acabava, na seqüência, por pensar em absolutamente nada. Depois a gente descobre que os belgas foram responsáveis por algumas das mais cruéis relações entre colonizadores europeus e colonizados africanos, até mais do que franceses e ingleses, o que talvez explique esse jeito, digamos, discreto de viver sem ser notado da Bélgica.

Atualmente os belgas conservadores resolveram tirar seu ranço do armário e colocá-los nas ruas: há movimentos separatistas cada vez maiores dentro do país, que já é minúsculo. É como se o bairro do Butantã quisesse se dividir em três em nome de uma tradição de meia dúzia de séculos atrás e que hoje é evocada sem sentido, com medo da globalização, com medo dos imigrantes, com medo, enfim, do que convencionou-se chamar de mundo. É a maneira que a Bélgica conservadora encontrou de, nacionalmente, voltar para o útero da mãe.

Mas o país outrora discreto que agora subiu à tona e que é mote deste post é a Áustria, terra que deu ao mundo tanto Mozart quanto Adolf Hitler.

No dia 24 de agosto de 1984, o austríaco Josef Fritzl pediu que sua filha Elizabeth o ajudasse a carregar um armário até o porão de sua casa, na cidade de Amstetten. Ao entrar no porão, a menina foi trancada, amarrada e estuprada por Josef. De lá Elizabeth sairia apenas em abril de 2008, 24 anos e 7 filhos de seu próprio pai depois.

A história é das mais absurdas que eu e o sensível leitor deste blogue já viu, mas não é dela que eu quero falar. Para quem quiser saber mais sobre o Papai de Rosemary austríaco eu deixo este link com uma reportagem sensacional da revista alemã Der Spiegel, publicada em português pelo UOL (só para assinantes).

No caso impressionante de Josef Fritzl, um dos fatos mais chocantes é: como alguém consegue manter uma família inteira no porão de casa por 24 anos sem que ninguém percebesse? Os vizinhos ouviam barulhos, chegam perto de suspeitar, mas não queriam saber o que se passava. Segue trecho da reportagem da revista alemã:

É claro, também ajudou o fato de (Fritzl) viver em um ambiente, na verdade em um país inteiro, que teimosamente permanece uma sociedade consensual, apesar das muitas mudanças radicais da atualidade, uma sociedade com uma tendência de evitar e encobrir disputas. (...). Mas enquanto os alemães provavelmente chamariam a polícia, preferivelmente de forma anônima (...), os austríacos têm a tendência de olhar para o outro lado. Dada esta mentalidade, não é exatamente surpreendente ouvir a criminologista Katharina Beclin, de Viena, dizer que dos cerca de 25 mil casos de abuso sexual que ocorrem na Áustria a cada ano, apenas cerca de 500 são informados à polícia.

O primeiro-ministro austríaco Alfred Gusenbauer declarou que seu país não pode ser refém de um só homem, o monstro Josef Fritzl. Um não, meu caro: dois. Há meses atrás, outro caso de um austríaco maluco que trancou a menina Natascha Kampusch no porão da própria casa por sete anos. Quando Natascha fugiu de seus estupros, o algoz se matou.

Há alguns anos, outro escândalo sexual colocou a Áustria em evidência. Cerca de 40 mil fotos de pedofilia num mosteiro austríaco chocou a Europa. O bispo do local declarou então que tudo não passava de um “trote infantil”, como bem lembra a Die Spiegel. 40 mil fotos de padres beijando seminaristas me parece algo bem diferente do que tocar a campainha e sair correndo.

(continua)

terça-feira, 6 de maio de 2008

A MUDANÇA ECONÔMICA DO BRASIL COM ÊNFASE NO RANÇO DAS ELITES

Para você que não entendeu nada da melhora da nota do Brasil no Investment Grade, nem no fato de que a maioria da população do país passou da classe D para a C no que tange ao consumo, eu explico: o corintiano que antes cheirava a suvaco agora compra Très Marchand. E mais fábricas de similares de Très Marchand, Avanço e afins vão querer abrir fábricas no Brasil.

Chupa, FGV.