terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A PORTA DO BARRACO ERA SEM TRINCO

UM TOMATE E DUAS FOLHAS DE ALFACE

"As belas que me perdoem, mas a imperfeição é fundamental. O padrão estético é uma tirania, e olhem aí a anorexia espreitando, com requintes de sadismo, no espelho das agências de modelo.

Já visitou uma? É, acreditem, o tédio da uniformidade: aquelas loirinhas magricelas e de cabelos lambidos, todas iguaizinhas, lindas e sorumbáticas, pernaltas e insossas, sonhando com um hambúrguer e um petit gâteau enquanto terçam os talheres sobre um tomate e duas folhas de alface. Juro que ali ninguém atiça os nobres hormônios da masculinidade."

Nirlando Beirão, CartaCapital de 5 de dezembro de 2007.

Atesto em gênero, número e grau o referido acima - trabalho no prédio da Ford Models, a agência que recruta flamingos em calças jeans. A começar por este reles blogueiro, Nirlando Beirão escreveu exatamente o que muita gente gostaria de ter escrito, tanto em forma quanto em conteúdo..Há uma - este travessão é só para interromper o cacófato - música bem antiga, mas antiga mesmo, do tempo em que o jovem Oscar Niemayer arquitetava choupanas para se esconder dos mastodontes, chamada Chão de Estrelas. Há um trecho em que o cantor fala da singeleza da amada, onde ela pisava nos astros tão distraída. Rapaz, o que já ouvi de gente louvar este trecho... Manuel Bandeira chegou a dizer que é o verso mais belo da Língua Portuguesa.

No entanto, ao imaginar a moça pisando nas estrelas com desdém, tudo que visualizo é uma tiazona suada e descordenada a patinar em cacos, culminando num irremediável tombo ao fim da cena. Eu rebatizaria a canção como Tropicão de estrelas, donde o tropicão tem como único objetivo assassinar a última flor do Lácio, inculta e cada dia mais feia.

Eu já fui mais romântico.



P.S.: Letra completa da música que desprezo.

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