sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

2007: O ANO QUE ACABOU

Há um conto do Jorge Luís Borges (isso é nome de funcionário público, não de contista) chamado A aproximação a Almostasín, do Ficções, de que já comentei por aqui. E logo chego com um adendo: a nova versão da Companhia das Letras exclui este conto do livro e o coloca em outro que não sei qual é. A edição de Globo do início dos anos 70, aparentemente com uma tradução chinfrim, contém o A aproximação a Almostasín. Foi essa que li há dois anos.

Este é um conto típico do Borges: aquela arrogância duplicada (primeiro, era argentino; segundo, era o Borges) vai suando pelas páginas ao relatar descobertas fantásticas de seus personagens sobre a História e a Filosofia. No fundo acho que ele só queria que o leitor se surpreendesse com o quanto ele próprio era genial, o que inevitavelmente acaba acontecendo.

Talvez (provavelmente?) não era intenção do autor, mas neste conto vi algo de uma beleza assustadora. O personagem principal está no fiofó da humanidade, onde tudo é horrível, todas as pessoas são tristes e carregam todas as chagas da humanidade (acho que o Borges conheceu o Parque São Jorge). No entanto, ele vê uma claridade em um dos homens do local - um jeito de olhar, uma expressão facial, um silêncio que não eram originários daquela pessoa. Provavelmente este um viu em outra pessoa, que pegou de outra pessoa e por aí vai. O personagem conclui que existe alguém que origina toda essa claridade, e então se impõe como meta de vida buscar, através da claridade que existe em cada um, este alguém que seja superior a tudo.

Na minha visão bem particular e que, creio, não teria o aval do Borges (reza a lenda que o bom da literatura é você tirar proveito da leitura da maneira que melhor lhe convir), a moral da história é tentar enxergar a tal claridade que o personagem apregoa nas pessoas ao redor. No fundo, é isso que fica. Às vezes a gente perde isso, mas sempre recupera no fim. Por diversos motivos, nem sempre dá, e quando não dá o jeito é deixar de esquentar a cabeça e chutar a bola pra frente, mas é daquelas crenças definitivas.

2007 foi daqueles anos psicologicamente bissextos, com o mundo caindo em quase todas as editorias da vida. Ele termino com o teclado da galhofa e as teclas da melancolia, mal sabendo o que esperar do conúbio de 2008 - e Machado de Assis deve estar dando coices frenéticos em seu caixão após eu vilipendiar essa frase. Resta acabar o ano bebendo junto dos amigos e cantando a música do Vinícius e do Carlinhos Lira que tenho como mantra nessas horas, a Marcha da quarta-feira de cinzas, e esperar pelos tempos melhores que estão no porvir.

Marcha da quarta-feira de cinzas, Vinícius e Toquinho é quem cantam:



Acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações saudades e cinzas foi o que restou

Pelas ruas o que se vê é uma gente que nem se vê
Que nem se sorri e se beija e se abraça
E sai caminhando, dançando e cantando cantigas de amor

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir, voltou a esperança
É o povo que dança, contente da vida feliz a cantar

Porque são tão tantas coisas azuis
Há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra ver e brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais, que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

SINAIS DO DESENVOLVIMENTO





Ao que parece, um pessoal que passava pela Paulista manguaçando durante o alvorecer resolveu entrar no MASP e levar uns quadros pra pendurar no corredor que leva ao banheiro no puxadinho de um deles. Eu só não sabia que os retratos da Sílvia Poppovic e do Betão, zagueiro do Curíntia, valiam tanto.

Depois de todos esses tiroteios na periferia, finalmente um crime made in Brasil com glamour vai parar nas manchetes internacionais. Olha aí, seu Duque Estrada, nosso futuro espelhando essa grandeza.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A PORTA DO BARRACO ERA SEM TRINCO

UM TOMATE E DUAS FOLHAS DE ALFACE

"As belas que me perdoem, mas a imperfeição é fundamental. O padrão estético é uma tirania, e olhem aí a anorexia espreitando, com requintes de sadismo, no espelho das agências de modelo.

Já visitou uma? É, acreditem, o tédio da uniformidade: aquelas loirinhas magricelas e de cabelos lambidos, todas iguaizinhas, lindas e sorumbáticas, pernaltas e insossas, sonhando com um hambúrguer e um petit gâteau enquanto terçam os talheres sobre um tomate e duas folhas de alface. Juro que ali ninguém atiça os nobres hormônios da masculinidade."

Nirlando Beirão, CartaCapital de 5 de dezembro de 2007.

Atesto em gênero, número e grau o referido acima - trabalho no prédio da Ford Models, a agência que recruta flamingos em calças jeans. A começar por este reles blogueiro, Nirlando Beirão escreveu exatamente o que muita gente gostaria de ter escrito, tanto em forma quanto em conteúdo..Há uma - este travessão é só para interromper o cacófato - música bem antiga, mas antiga mesmo, do tempo em que o jovem Oscar Niemayer arquitetava choupanas para se esconder dos mastodontes, chamada Chão de Estrelas. Há um trecho em que o cantor fala da singeleza da amada, onde ela pisava nos astros tão distraída. Rapaz, o que já ouvi de gente louvar este trecho... Manuel Bandeira chegou a dizer que é o verso mais belo da Língua Portuguesa.

No entanto, ao imaginar a moça pisando nas estrelas com desdém, tudo que visualizo é uma tiazona suada e descordenada a patinar em cacos, culminando num irremediável tombo ao fim da cena. Eu rebatizaria a canção como Tropicão de estrelas, donde o tropicão tem como único objetivo assassinar a última flor do Lácio, inculta e cada dia mais feia.

Eu já fui mais romântico.



P.S.: Letra completa da música que desprezo.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

UM TOMATE E DUAS FOLHAS DE ALFACE

"As belas que me perdoem, mas a imperfeição é fundamental. O padrão estético é uma tirania, e olhem aí a anorexia espreitando, com requintes de sadismo, no espelho das agências de modelo.

Já visitou uma? É, acreditem, o tédio da uniformidade: aquelas loirinhas magricelas e de cabelos lambidos, todas iguaizinhas, lindas e sorumbáticas, pernaltas e insossas, sonhando com um hambúrguer e um petit gâteau enquanto terçam os talheres sobre um tomate e duas folhas de alface. Juro que ali ninguém atiça os nobres hormônios da masculinidade."

Nirlando Beirão, CartaCapital de 5 de dezembro de 2007.

Atesto em gênero, número e grau o referido acima - trabalho no prédio da Ford Models, a agência que recruta flamingos em calças jeans. A começar por este reles blogueiro, Nirlando Beirão escreveu exatamente o que muita gente gostaria de ter escrito, tanto em forma quanto em conteúdo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

DA SÉRIE: GRANDES VERDADES MINIMALISTAS

Duas certezas ficam ao vasculhar os fóruns da internet depois da queda do Corinthians à Série B:

1) Ninguém gosta do Curíntia;

2) Ninguém gosta de vírgulas.