domingo, 8 de julho de 2007

NOSTALGIA DA MODERNIDADE

A adolescência é o período em que o sujeito convive atolando as frustrações na própria garganta mais que em outras fases da vida. Os mais velhos marejam os olhos ao falar de seus 15 anos, e se ouve falar todo dia o sobre o insofismável prazer de ser um adolescente. Porém, quando você tem 15 anos, reza toda noite para pular para os 18, talvez para os 25. Porque você é feio, ou porque lhe falaram que você é feio, porque você tem espinhas, porque você é péssimo ao escolher roupas, não entende nada de balada ou, provavelmente, porque você é um ser humano em formação e, portanto, cheio de defeitos - não que os adultos sejam perfeitos, muito pelo contrário. Defeitos estes que serão lembrados por seus semelhantes de sua idade, mais que por suas qualidades, porque eles tentarão a todo custo provar que são alguém, mesmo que para isso tenham que mostrar ao restante da humanidade que são melhores que você. Mas não se iluda, você não é vítima, é só parte da engrenagem, porque você faz o mesmo com outros adolescentes a quem crê piamente serem piores do que você. A adolescência é a arte de tratar a própria insegurança tornando o seu semelhante mais inseguro que você.

O ser humano é bicho e o bicho que vive em comunidade precisa de um líder. Todo mundo quer ser um líder de alguma coisa, e para sê-lo você precisa se justificar perante os outros, exatamente como age uma comunidade de babuínos. Triste é o momento em que um ser humano se compara a um babuíno. Porque, nas fases de euforia, o bicho homem só consegue enxergar o símio como um animal modorrento. É nas horas de angústia que você olha para a jaula do babuíno e o observa a descascar uma banana, descompromissado com qualquer coisa, e resmunga: “Esse filhodaputa é que é feliz, porque não tem o fardo da responsabilidade”.

Em algum lugar do passado, o homem e o macaco tiveram um ancestral comum, mas depois fizeram parte de galhos distintos da árvore genealógica. E então você se pergunta: “Eu peguei o galho errado. Tudo o que eu queria era estar descascando uma banana e caçando pulga na cabeça daquela fêmea da jaula 16, sendo observado por um idiota cheio de compromissos como eu”. Eis a derradeira decadência do mundo moderno: o homem foi à Lua, cravou a bandeira civilização para arder-se em inveja por seu parente selvagem distante.

Quando adolescente, você vai sofrer ao fazer merda, mas sempre haverá a válvula de escape da inexperiência, sempre haverá um consolo, um refúgio, uma rede de segurança ao cair do picadeiro. Mas e se você falhar quando adulto? E se você falhar quando não deveria, quem vai te segurar quando cair feito melancia da sacada um prédio? Então você vai ao limite para não virar esta melancia. Talvez você consiga. E se conseguir, no seu aniversário de 40 anos, alguém vai dar um tapinha em suas costas para dizer “Parabéns, meu caro. Você conseguiu. Passou boa parte de sua vida preocupado com coisas que não são suas. Mas a civilização é assim mesmo. Cravamos uma bandeira na Lua em nome disso. É o que nos destoa dos babuínos”.

Há alguma coisa muito errado nisso tudo, ou eu que estou completamente bêbado. Talvez uma coisa não exclua a outra.

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