
Pá pá rá, pá pá rá rá rá rááááááá rá
Descobri algo da mais obscura relevância neste fim de semana: Ray Conniff já fez um show em Jundiaí. Muito mais que isso: fez um show na noite em que nasci, um domingo, 29 de março de 1981. Foi como se descobrisse que meu pai não é meu pai, ou que fui adotado, ou então que fui achado numa lata de lixo. Este fato mudou completamente minha concepção sobre Jundiaí, sobre Ray Conniff e, é claro, sobre mim mesmo.
Contou a mamãe Vives que foi ao hospital na manhã daquele dia ao sentir dores ligeiramente mais fortes. No hospital, o médico que acompanhou toda a minha gestação deu um tapinha nas costas dela e disse: "Dona Maria, vai pra casa brincar com as outras criança, vai. Se continuar doendo, a senhora volta".
Deu-se então que minha mãe voltou pra casa e, enquanto meu pai assistia um GP de Fórmula 1 - ele odeia Fórmula 1 - ela ficou lá, brincando com as criança, que porventura venham a ser meus três irmãos. À noite, comecei a beliscar a barriga dela e a morder com veemência o cordão umbelical, numa clara indicação de que pretendia sair dali de qualquer jeito - eu não lembro disso, mas tento aqui acrescentar algum glamour ao meu nascimento, me dêem licença.
Foi então que, ao chegar de volta ao hospital - meu pai é tão certinho que parou em todos os sinais vermelhos, para desespero da minha mãe -, eis que um novato surge e diz: "Sou eu quem vai fazer o parto". E assim o fez.
No dia seguinte, véspera do 17º aniversário da Revolução Redentora de 1964, surge no quarto do hospital o médico que havia sumido:
- Sabe que é, dona Maria, eu tava no show do Ray Conniff lá na Esportiva. Não dava pra perder, né?
Logo, tem-se o seguinte quadro: o médico que acompanhou todo o penar de minha mãe, que tinha toda a ginga e malemolência de um F. Vives dentro dela, não estava lá na hora H, com o desentupidor de pia em mãos, para me tirar de dentro dela. Estava é no clube, com uma cerveja na mão esquerda e o dedinho para cima, apalpando as ancas gordas de sua esposa com a outra, embalado pela melodia de Besame Mucho.
Depois dessa, passo a me considerar um ser transcendental, algo entre o Walter Mercado e o Reverendo Soares. Esperem de mim que eu salve o mundo ou, mais provável, que contribua para terminar de levá-lo ao buraco. Se me perguntarem qual o meu signo, respondo, batendo no peito: "Áries, com ascendência em Ray Conniff". Agora entendo aquela vez que transformei água em Cachaça Pitu. Sou um enviado divino.
O melhor de tudo é que descubro tudo isso meses depois de colocar esta singela fotinho do Ray aí ao lado, com a peruca em cor diferente de sua barba, com um poodle no colo. Depois da Ibrahim Sued, é o mentor deste blogue. Ou, como não cantaria Bob Dylan: The answer my friend, is blowing in Jundiaí, the answer is blowing in Jundiaí.
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