Vou começar falando de futebol, mas não é do futebol que eu queria falar.
Dia desses, li uma entrevista de um ex-jogador de futebol alemão. Não lembro quem, sinceramente. Era um famoso. Pra você que entende de futebol tanto quanto de cozinha albanesa, coloco o adendo: já disse o Jô Soares (uma das poucas frases sábias dele) que a Alemanha nunca jogou futebol. Eles jogam uma coisa parecida com o futebol, muito mais feia mas que, no final, dá sempre certo. E lá ficam aqueles olhos azuis, com a taça erguida, rindo da gente.
Os alemães e seus canhões são três vezes campeões mundiais, e, ao se comparar uma partida da Copa de 1954 com outra da Copa de 1990 (duas das três em que venceram), você vai notar que mudam os nomes dos jogadores, muda-se o preto-e-branco para o colorido, mas o incrédulo jeito germânico de jogar bola está lá, a mesma correria, as mesmas jogadas, 36 anos depois.
Disse esse ex-jogador que o grande diferencial alemão estava no coletivo, dentro e fora de campo. A partir dos anos 90, a Alemanha não ganhou mais nada. O motivo, explica esse ex-jogador (ainda vou lembrar o nome dele), é que a força alemã estava no coletivo. Mas o negócio, o business, mudou o futebol, tornou-o uma experiência muito mais individual para o jogador. Não vou dizer que mudou para pior, pois há coisas que melhoraram com isso. Mas certamente o romantismo, tão caro ao esporte, já morreu faz tempo.
Lá vem um tucano ali no fundo erguer o indicador a me acusar de nostalgia da esquerda que se perdeu com a invenção do anti-mofo. Não, ignaro. Explico com uma pergunta: a coletividade entrou em decadência. Mas e o indivíduo, não?
Comecei falando de futebol alemão, mas queria falar mesmo é da política francesa - e me perdoem pelas sinapses esquisitas. As eleições que ocorrerão em abril contrapõem a "socialista" Ségolène Royal e o centro-direitista Nicolas Sarkozy. Ela tem cara de rato morto. Ele, de lagosta morta. A pergunta que ecoa é: cadê o político francês, aquele que ensinou o mundo a fazer política? Cadê o De Gaulle? Cadê o sujeito que vai subir em um Citroën Deux Chevaux bradando algo que remeta, mesmo que de longe, àquela história da bandeira de três cores e tudo aquilo que a gente aprendeu lendo, ouvindo e se encantando desde Os Miseráveis? Séculos de filosofia acabaram num Segô versus Sarkô com um Le Pen correndo por fora?
A política, como o futebol - e como o leite - se pasteurizou. Pergunte para a Segô ou ao Sarkô qual a cor do cavalo branco de Napoleão que você terá, três semanas depois, uma vaga resposta através da secretária deles de número 5 - e, pode apostar, esta resposta virá por e-mail, cuja mensagem terá em seu cabeçalho: "Obigado por entrar em contato com nossa equipe".
É o jeito moderno, é o jeito Tony Blair de fazer política. Faça uma cara limpinha, faça um joinha para as câmeras, use sua Montblanc para assinar papéis. Mas aperte-lhe as partes pudentas com veemência pedindo, for God sake, um mísero conteudinho que seja. Não sai nada. Choca o fato de que o grande líder carismático dos últimos tempos seja o Bill Clinton, o sujeito cujo maior legado foi deixar uma mancha de virilidade no vestido da estagiária.
Mas não é só na política que nos faltam os grandes personagens. Bons nomes hoje existem na música, na literatura. Nomes fundamentais cada vez menos. E é comum entre os bons de hoje a desilusão com o porvir, a catatonia do "não há nada a fazer", ou então a masturbação do passado que remete a um presente que prometia futuros melhores.
Talvez o que eu esteja dizendo não passe um amontoado de clichês, mas já não importa. Os grandes homens vão deixando de existir por mera falta de exemplos. Não há o Jean Valjean de amanhã; procure o Fausto Wolff de 15 anos que você não vai achar. O Chico Buarque que (perdão pelo cacófato), apesar de você, achava que o amanhã seria outro dia mexe mais que o Chico atual, que apenas sonha que a neve gelava e que o fogo fervia.
Então, é ao olhar para a criançada do prédio, da rua ou mesmo da própria família, que, com o sorriso dos cínicos, você se pergunta se a desilusão deles será ainda maior que a sua, caso um dia disso se dêem conta. Afinal, com o derretimento da Groenlândia, são eles vão que pegar praia em Cubatão, só pra citar uma das conseqüências da vitória dos personagens medíocres que sempre deixam tudo como está.
Mas o provável é que digam simplesmente: "Mas a vida é assim mesmo". Vai saber quem serão os ídolos dessa gurizada. Como disse Ulysses Guimarães: "Quem cuida de coisas pequenas, acaba anão"*. Sabe-se lá quando a Terra vai ficar do tamanho de Mercúrio.
*frase reproduzida na CartaCapital desta semana, sem a qual talvez jamais conheceria a pérola.
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Há 5 semanas
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