Tudo passa. Até uva passa, já diria Schopenhauer. Menos a onda de calor no inverno, a de frio no verão e a de furacões onde antes só havia uma chuvinha assim-assim. Parece que os planos para minha aposentadoria - viver em Ubatuba com um chapéu Panamá, dois cachorros e um monte de livros pra ler na praia - vai por água abaixo. Literalmente: com o derretimento das calotas polares, Ubatuba deve ficar a ver peixinhos, e terei que rever minha meta por alguns quilômetros, já que em 30 anos as ondas chegarão até São Bernardo. O lado positivo é que as mais altas chaminés de Cubatão podem servir como farol turístico. Imagino o Netinho cantando Milla ("Mil e uma noites no farol com você" - um poeta esse moço) na inauguração oficial do farol. Fica aí a sugestão.
Mas não me aperreio mais com essas coisas. Procuro relaxar espancando umas criancinhas, estuprando umas velhinhas, superfaturando umas ambulâncias, essas coisas. Pena que não tenho nenhum vizinho libanês pra explodir uns misseizinhos. Porque, como diriam os israelenses, é explodindo a casa que se elimina a toupeira que morde as flores do quintal.
Mas não é por falta de desgraça em casa que vamos falar das agruras alheias. Tentam me convencer a votar novamente no sapo barbudo, sendo que já o beijei uma vez há quatro anos e ele não virou príncipe. Logo eu que passei uma semana rouco após a vitória dele. A esperança ficou com medo. Eu também. Mas quem gosta de tucano é zoológico e o mercado financeiro, de modo que para votar precisarei do auxílio de Fábio Puentes, o mágico que faz uma pessoa comer uma cebola achando que é chocolate.
Aí você pega seu sobrinho de cinco meses no colo, o aperta forte enquanto ele sorri, sem imaginar o tamanho da encrenca em que está se metendo. É quando você moralmente entra em posição fetal, perguntando pela Pangéia que não existe mais. E então olha pra ele, pedindo desculpas pelos deslizes da humanidade por motivos que jamais vou conseguir explicar.
Este blogue pára por duas semanas, talvez um mês.