1990. Terceira série do primário. O Elias da Vila Ana, os piores dentes que vi na vida, entra na sala atrasado.
- Ô ´sora, mal aí. Tava vendo essa história aí de copa do mundo.
Sentou do meu lado, que perguntei de que raios ele tava falando.
- É, cê não gosta de futebol, né? Tá rolando a Argentina contra uns tal de Camarão. Mundial. Na Itália.
Vi o Elias uns cinco anos depois, era carregador de pacotes do Furgeri, mercadinho na esquina da minha casa. Eu ia comprar Mirinda laranja, que adorava. Ele me sorriu, já não tinha mais os dentes da frente. Lembrei daquele dia da terceira série, o dia em que a Argentina perdeu por 1 a 0 para Camarões na abertura da Copa de 1990, em Milão, com gol de François Oman-Biyik. Foi o dia em que comecei a gostar de futebol. Acenei com a cabeça.
Dizem que o Elias virou bandido.
***
1994. Sétima série, 13 anos nas costas, mais de 1.80 de altura, penugem na cara esboçando uma barba. Futebol e espionar casais transando na rua da minha casa eram minha vida. Nunca quatro anos demoraram tanto a passar, até aquele dia de junho em que Alemanha e Bolívia entraram em campo, e eu quase chorei. A Copa começava com um gol solitário de Klinsmann para a Alemanha, para terminar com Baggio a chutar a bola para o espaço.
Pela primeira vez trocava figurinhas de um mundial. Cheguei a vender algumas repetidas. Em uma ocasião dessas, trouxe para casa a primeira moeda de um real. Fiquei feliz com o fato e mostrei a moeda a meu pai, que gritou: "GRANDE MERDA ESSA PORRA DE REAL, FHC TRAÍRA FILHODAPUTA!".
Fome, miséria e imcompreensão. O Brasil era "treta" campeão.
TO BE CONTINUED...
Foto: Flagrante de Argentina x Camarões, 8 de junho de 1990, em Milão
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