quarta-feira, 12 de abril de 2006

CONCERTO EM QUALQUER TOM PARA TRIÂNGULO E RÓI-RÓI


(não tem foto)

O sinal mais evidente de que você faz parte da engrenagem da decadência da civilização é quando você marca um bar com uma amiga e logo a seguir esquece o local combinado. Não adianta parar e pensar, nem chacoalhar a cabeça para baixo como se tentasse tirar água do ouvido. O melhor a fazer é assumir a derrota de suas sinapses e ligar a cobrar perguntando sobre o que conversaram antes, se o local combinado foi o bar, o escadão, a livraria e... a gente tinha marcado alguma coisa?

Os sinais de decadência estão em todas as partes, nas ruas, campos e construções, como diria Geraldo Vandré (eis a metalingüagem da decadência: um blogue desprovido de utilidade citando música revolucionária dos anos 60 em um post sobre o desbunde das utopias).
Outro dia encontrei com uma tiazona no busão que era rigorosamente o Boris Yeltsin. Nem o próprio Boris Yeltsin era tão parecido com ele mesmo do que a tiazona de quase 80 anos e guarda-chuva segurando o cotovelo. Trata-se de um conceito de decadência de duas vertentes opostas que não se anulam, já que, primeiro, é decadente se parecer com o Boris Yeltsin e, segundo, é decadente encontrar alguém que se parece com o Boris Yeltsin no ônibus a caminho do trabalho.

Tudo isso seria muito se não fosse pouco para alguém que, de quebra, ao voltar do bar com a amiga cujo ponto de encontro esquecera horas antes, ainda dá de cara, à meia noite e trinta e cinco, com um sujeito de 40 anos conversando escandalosamente com seu husky siberiano, que o olhava de soslaio, atônito. O espetáculo seria engraçado não fosse triste, seria esplendoroso não fosse simplório. O husky siberiano, visivelmente fora de forma, bufava acuado com tantas explanações do sujeito que monopolizava a coleira abraçada ao seu pescoço, e o olhava com o olhar de piedade digno de um sertanejo de música do Renato Teixeira, como se perguntasse: "Seu dono, toda essa baboseira... é comigo ou por causa de mim"?

Mas eis que há sempre um alento, há sempre o silêncio charmoso da moça que passa pelas beiradas a tarde inteira com um charme contido, elegante e discreto, tão discreto que é impossível não percebê-lo. Eis então que você esquece a decadência dos últimos dez milhões de anos da evolução da espécie, rouba mais uma dose da vodka que não é tua na geladeira e deixa que o Aldir Blanc faça o resto:

Na cabeceira um relógio

À hora mais luminosa

Churrascaria aos domingos

Dois bombons e uma rosa

Apenas quero fazer

A necessária ressalva

Jamais comente o passado

Lembre o conselho de Dalva:

Não há xampu, não há creme

Que apague ou que desmarque

Da tua pele o meu beijo

Fedendo a conhaque

Estou bêbado.

quarta-feira, 5 de abril de 2006

O "DAMO" DA LOTAÇÃO

Pra mim, isso sim é "lotado"

Existe uma expressão que, ao que parece, é advinda do funk - não o do Jaime Marron, e sim o carioca mesmo - que me incomoda muito. É um tal de "Lotado!". Não consigo entendê-la, tampouco compreender as pessoas que se dizem "lotadas".

O Orcutis - ah, eu se emociono todo nesse tal de Orcutis - é o cenário ideal para garimpar personagens que se auto-classificam como "lotados". Tem uns que ainda hiperbolicam a expressão (vejam só, que neologismo verbal acabo de inventar: hiperbolicar! Chupa, Professor Pasquale!) ao dar ênfase ao seu caráter de lotação, seja lá do que venha a ser esta uma. Assim, o sujeito coloca a fotinho dele, não sem antes passá-la pelo Photoshop para cravar a legenda "Lotado!" nela.

Outras pessoas se consideram "lotadas" com tão voluptuoso ímpeto que acabam por repetir a expressão três vezes. Olha que eu já vi uns três casos, ao menos. Exemplo hipotético? Nome: "Carolzinha de Jisuis". About me: "Lotado! Lotado! Lotado!". Parece que a alcunha não dá chance ao feminino, sabe-se lá o motivo, mas dá brecha para a auto-afirmação originada por sua repetição. Imagino que um sujeito que grite "Lotado!" três vezes se sinta três vezes mais "lotado". Praticamente uma Kombi do Largo da Batata. Enfim, um sincero gesto de auto-afirmação. Se Hitler tivesse descoberto essa expressão, a saudação nazista certamente seria diferente (chupa, Göebbels).

Vasculho o perfil dessas pessoas "lotadas" em busca de uma explicação, uma mísera dica do que "lotado" quer dizer. Estou por um triz para deixar um escrepe para alguém pedindo uma luz:

- Ei, Renatinho 22 Lotado! Lotado! Lotado! Você tá lotado de quê? Quer ajuda? Você se sente bem com esta condição? Quel tal o suícidio, seu trouxa?

Cá com meus "vazios" botões, imagino que "lotado" tenha o mesmo significado que o demodé "Ah, eu tô maluco" ou o bucólico "U-u-hu Aiaiaiaiaiaiai", que, por suas vezes, não significam rigorosamente nada.

domingo, 2 de abril de 2006

SEMELHANÇAS


1.

- Cara... você com esse cabelo comprido tá a cara... a cara... do Michael Moore! É só botar um boné! - Porra... mas o Michael Moore é feio e gordo pra diabo... - Desencana, tem outras qualidades... - Bem, minha mãe me acha o Roger Moore...

2.

- Cara... você com esse cabelo comprido... tá parecendo o Gerard Depardieu!!!! Hahahahahaha! - Porra... mas em papel de galã ou de esquizofrênico? - Sei lá, esse seu cabelo tá a cara dele cabeludo! Se você pesasse vários quilos a mais e eu te chamava de Obelix! - Obrigado. Mas eu só assisto pornochanchadas.

3.

- Cara... você já assistiu American Chopper? - Você vai falar que eu pareço um tal de Mike, é isso? -HAHAHAHAHA, é isso mesmo, não dá pra não pensar no Mike quando te vejo! - Seja educado e diga que a minha sutil barriga de cerveja é bem mais elegante que os 220 quilos dele... - É verdade. Mas ele é uma verdadeira múmia! - E você que assiste American Chopper...

4.

- Cara... você é igualzinho ao Sully, aquele bicho azul do Monstro S.A.! - Você tá dizendo que eu pareço um monstro azul de desenho animado, é isso? - Sim, mas ele é bonzinho e fofinho! - Se eu fizer o seu crânio de sparring, você vai continuar achando que eu sou um monstro azul bonzinho e fofinho?

5.

- Cara... você com esse cabelo... tá parecendo o russo que criou o Tetris! Hahahahahahaha! - Pô... mas ele é, assim, um tipo elegantão como eu? - Ele é um ogro cabeludo, assim, do seu tamanho! - Ah mas é por isso que eu só jogo o Balloon Shooter...