quarta-feira, 31 de agosto de 2005

PAUSA SOBRE A PAUSA

Se você não tem nada para fazer enquanto curte o recesso de SorryPeriferia, sugiro que leia o blog do Marcos Valério.

Detalhe para o post "Tara pelo sangue derramado", que contém um comentário assinado por um tal de Vives, que deixou a seguinte frase: "Põe uma foto de quando você era cabeludo aí, ô". Ao que parece, esse sujeito que anticonstitucionalissimamente assina como Vives também deixou um spam com a frase "ENLARGE YOUR PENIS".

Procurado pela reportagem de SorryPeriferia, Marcos Valério não quis comentar o assunto.

Segue a pausa.

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

CARTA ABERTA AOS LEITORES DE SORRY PERIFERIA


Caros,

reza a lenda que momentos antes de morrer, Ludwig Van Beethoven olhou pela última vez para as partituras que forravam seu piano e encheu de lágrimas os próprios olhos. Beethoven pressentia ser aquela a última visão daquilo que mais representava sua vida, e tinha consciência do quão grandiosa ela havia sido. Momentos depois Ludwig deitou tristonho em seu leito e pereceu, com a brisa da manhã a entrar pela janela, ao som do canto triste das cotovias.

Em verdade essa lenda é uma mentira estapafúrdia inventada por mim agora mesmo com o único objetivo de parecer mais culto. Se não me engano, o dito cujo aí em cima morreu doidivanas, com um sério problema de incontinência urinária e intestinal, e me corrijam os que realmente sabem da história. Mas, convenhamos, o meu fim tem mais glamour.

Pois bem. Todo mundo tem um pouco de Beethoven. No meu caso, compartilho com o mestre um pouco da surdez e olhe lá - ah, esses malditos rolhões de cêra de ouvido. Taí uma hipótese: se já existisse naquela época essas pistolinhas d´água que os médicos usam pra limpar nossos ouvidos, talvez a história de Beethoven tivesse sido mais feliz.

Posto o intróito sem sentido, digo que convém uma pausa. Ah se convém uma pausa. Neste blog. Duas semanas, quatro talvez. Ele está cansado. Foi-se a espontaneidade, a risada boba das linhas imprevistas. Há hoje aqui uma fuga do que sempre quis fazer, que pode ser retratado por uma sucessão de posts com textos quadrados, compridos e prolixos.

Tentemos mais tarde, portanto. Voltarei, não há dúvidas, porque escrever é minha terapia automática e intransponível. É o que eu faço quando estou nervoso. É o que eu faço quando estou triste. É o que eu faço quando estou feliz. Aproveitemos o momento de anomia e reflexão pelo qual passa o editor do blog, que sente suas energias esgotadas. Utilizando um linguajar freicanéico: bad vibe.

O editor de SorryPeriferia sempre foi um autista por opção, mas sente que atingiu um extremo nas últimas cinco ou seis semanas. Uma estafa passageira e sem sentido, causada pelo absolutamente nada somado ao excesso diário de internet. Nóia. Como diria o filósofo Wander Wildner, "não consigo ser alegre o tempo inteiro". Logo, ele se recolhe ao seu porto metafísico - o copyright desta expressão não é meu - para voltar muito em breve tinindo as energias, como em tempos recentes. Assim voltará a escrever, porque mais do que nunca ele precisa disso para pagar suas contas. E então voltará, de preferência se referindo a si mesmo na primeira pessoa, porque ele abomina quem escreve sobre si na terceira, como agora está fazendo só por pirraça.

Enfim, deselegante.

Portanto, masoquista leitor, este blog volta em algumas semanas. Com um visual novo, talvez, e com idéias novas, reinventado. Para quem gosta dele, convém aguardar. Para quem não gosta, resta o consolo de poder admirar a foto acima, da insofismável Catherine Zeta-Johnes, eterno colírio que carregarei para o além-vida. Errei: além da parcial surdez, tenho de Beethoven também a minha amada imortal. Ela fica aí em cima enquanto não retorno a escrever, espantando as más energias.

A gente se vê por aí,

Lives.

segunda-feira, 1 de agosto de 2005

THIS IS THE END, BEAUTIFUL FRIEND

De Niro, Taxi Driver, 1976.

"É preferível ser rei por uma noite do que um tolo a vida inteira". Rupert Pupkin, personagem de Robert De Niro em O Rei da Comédia (Martin Scorsese, 1983).


Houve um tempo em que Hollywood fazia filmes para as pessoas pensarem nelas mesmas dentro de um contexto social, e dizendo isso pareço um velho marxista derrotado pela queda do Muro de Berlim. Mas dane-se. O Rei da Comédia, de Scorsese, é a tampa do caixão deste período, que ao meu entender surgiu forte nos anos 60, teve seu clímax durante os 70 e foi enterrado no início dos 80. Falo (ui) de um tempo em que as grandes caixas redondas recheadas de película que saíam da Califórnia - e que chegavam até àquele cinema do seu bairro que já não existe mais - tinham também o objetivo de discutir o que eram os States, apontar suas fraquezas e, em muitos casos, colidir de frente com todos os governantes estúpidos das escalas municipal, estadual e federal. Da polícia de Nova Iorque ao FBI. Os donos do poder, enfim, com as calças na mão. Falo (dane-se o cacófato) de filmes como Dr. Fantástico e Nascido para Matar, de Kubrick, Apocalypse Now e A Conversação (Coppola), Táxi Driver e O Rei da Comédia (Scorsese), M.A.S.H. (Robert Altman), Todos os Homens do Presidente (Alan Pakula), Serpico e Um dia de Cão (Sidney Lumet), Muito Além do Jardim (Hal Ashby), entre tantos outros que não assisti, não lembro ou que desconheço a existência. (só achei os nomes de Pakula e Ashby no Google, não conhecia nenhuma dos dois).

Aluguei há alguns dias O Rei de Comédia, que há muito queria ver e não achava em locadora alguma. Não ri. Não que seja mal feito, muito pelo contrário, mas o contexto em que a dita comédia se insere é angustiante. O drama de carência moral e afetiva por que passam os personagens de De Niro e de sua amiga (cujo nome não sei) é trágico. No fim, com um nó de angústia entalado na garganta, você passa dias pensando se não corre o risco de ficar como aqueles personagens, e faz algumas observações sobre a frieza com a qual os americanos tratam uns aos outros. Enfim, o cinema que te pede para pensar. Brilhante.

Scorsese, o diretor, assume nos extras que produções assim não podem ser realizadas atualmente. O contexto do cinema, segundo ele, mudou. O Rei da Comédia teria sido o último dos filmes que discutiam as carências da sociedade norte-americana do ponto de vista do homem, do ponto de vista da sociedade e, em muitos casos, do ponto de vista dos donos do poder.
De fato, não se vê mais filmes com esta toada, salvo um O Informante aqui, outro Um dia de Fúria ali. Mas nunca mais uma tendência questionadora. Depois que certos dois predinhos desabaram em Nova Iorque então, não fazer filmes que incomodem coisas da política ou da sociedade de nosso Grande Irmão do Norte passou a ser um ato de patriotismo.

Mas por quê, afinal?

Dizem que Ronald Reagan - um ex-ator, lembre-se - não queria seguir os caminhos de Nixon no que se refere a deixar-se parecer o que realmente ele era, ou seja, um tapado utópico, tal qual Nixon. Assim Reagan teria começado a seduzir os chefões de Hollywood, prática intensificada por Bush Pai, Clinton e, sobretudo agora, por Baby Bush. Agora, os donos do poder e os donos do cinema mantém relações carnais que causariam inveja a Carlos Menen, que tanto quis uma algo mais entre a Argentina e os States.

A conseqüência é esse cinemão burrocêntrico que hoje vemos por aí. Um gênio como o Scorsese fazendo algo como O Aviador, uma superprodução burocrática que não quer dizer nada a ninguém. Robert De Niro, talvez o grande ator desta toada pensante dos anos 70, hoje vive de comédia para a família republicana média assistir com o cachorro na sala.

A questão de O Rei da Comédia é a própria questão de Hollywood. Tal qual a frase de Rupert Pupkin, o personagem de De Niro, o cinema de Hollywood foi rei por uma noite, mas tolo por todo o resto de sua existência. A lamentar.

OBS: Pessoalmente acho que temos bons filmes atualmente, mas longe deste contexto político. E duvido que teremos.