sábado, 24 de julho de 2004

COPIANDO A IDÉIA DO ANGELI

Dois lugares que eu odeio... 

***O BANHEIRO DA CASA DO SABER - Pro sujeito que nunca freqüentou o toilette desta instituição yuppie-cultural, digo que ele é espelhado. Não, não é o compartimento da pia que é espelhado. O banheiro todo é que é. Você entra pela porta e dá de cara com outra, dois metros para a frente, que te leva ao vaso sanitário (estaria eu com vergonha de escrever "privada"?). Abrindo essa nova porta - cujo trinco é tão lustrado que dá dó de colocar a mão - você é recepcionado por um reluzente, esplendoroso e narcisista exemplar de louça sanitária, cercado de espelhos por todos os lados. Imediatamente você se sente na suíte de um daqueles hotelões-cassinos de Las Vegas que você viu em algum filme do Scorcese por aí. O ato? Sublime ato. Você então fica defronte ao vaso e, com sua parafernália genital em mãos, observa por todos os ângulos possíveis a sua expressão de alívio enquanto sua bexiga se esvazia na mesma proporção em que o gargalo da louça se enche. E fica lá imaginando, por um momento, se o decorador que projetou aquilo não pensava ser uma espécie de Midas que urinava ouro diante de dezenas de olhares complacentes de si mesmo. 
O flush? Ah, o flush (descarga seria a palavra exata, mas ela não corresponde ao glamour narcisatamborendesco que tento passar aos leitores, tão sedentos por cultura logístico-sanitária). Imediatamente após acionar o botão do flush, ouve-se um marulhar suave, quase uma salva de palmas para o maestro que executou um último ato. E você sente a necessidade de saudar a todos os lados, agradecendo aquele enorme público de você mesmo que flagrou este momento tão íntimo e, até o acabamento do banheiro da Casa do Saber, tão frívolo. 

***O ESTACIONAMENTO ALOHA PARK - Atire a primeira pedra o sujeito que nunca foi de carro para a Abril e estacionou no Aloha Park. Trata-se, antes de tudo, de um estacionamento temático. E, como o nome já diz para você que assistia filmes de surfista nas tardes do Cinema em Casa, o tema é o Havaí. É. Na entrada, dois sujeitos com o olhar permanentemente vermelho e dilatado fazem as vezes da casa para o ilustre motorista: 
- E aí? 
Você então se pergunta porque resolveu estacionar seu carro no Aloha Park. Mas quando um deles diz "Sete mangos, ok?", você lembra que é o lugar mais barato da região. Você então deixa seu carro e entrega a chave para um deles, resmungando com seu inconsciente por ser pobre e não poder pagar um estacionamento mais caro. Quando aqueles olhos vermelhos e dilatados entram no veículo para colocá-lo na vaga, você se despede, mas vai devagar e finge cair uma moeda no chão, só para poder dar uma espiadinha para trás e ver se o dito cujo não vai deslizar seu carro na parede, como se fosse uma prancha no mar de Honolulu. 
Na volta, você é recepcionado com as duas únicas palavras que parecem compor o dialeto local: 
- E aí? 
Você paga e, de repente, surge a cereja do bolo: um enorme pitbull, também com os olhos vermelhos e dilatados, preguiçosamente funga em seus joelhos. Você então lança aquele seu olhar de súplica de Jesus Cristo na Sexta-Feira da Paixão para a dupla de surfistas, para que alguém tome uma atitude e tire o focinho do animalão de seus joelhos. Mas os olhares de ambos estão dilatados e acabam por nem notar o que se passa. O animalão, então, cansado do cheiro de suor de sua pele - você está suando de medo, é claro - dá as costas e conduz a malemolência de seu corpanzil para o canto em que estava deitado antes da chegada de seu par de joelhos. 

E um que adoro... 

Eu adoro o apê da Laura. 

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