sexta-feira, 30 de abril de 2004

DESAFIO EM PINES TREES

Quase todos os dias em que um jornalista urso não identificado sai do trabalho, encontra uma ratazana de dois palmos ariscamente cruzando a rua do ponto final de seu ônibus. Ele:

a) Fica apavorado e se junta às baratas que habitam o outro lado da rua. Em terra de cego, quem tem um olho está mais sujeito a ilusões de ótica. 

b) Pisa, bate e leva o rato pra guardar na despensa de casa, armazenado em sal grosso. O Brasil é um país em crise e nunca se sabe o que teremos na jantar no dia de amanhã;

c) Convida a ratazana para um colóquio no Toca da Angélica, a fim de ambos analisarem-se psicologicamente. Ela, uma ratazana na sua condição de desbravadora de bueiros enquanto sobrevivente, ele, alguém que tenta percorrer os bueiros de sua memória para descobrir em que momento começou a cometer erros tão estúpidos e auto-degradantes. Como conversar com ratazanas;

d) Pisa, empalha, e a coloca na estante de seu apê como tóten, ao lado da caminhonete verde que seu avô lhe deu como presente de batizado, dois meses antes de morrer;

e) Morde-se de inveja pela ratazana poder enfiar-se em algum bueiro quando o mundo cai sobre sua cabeça, enquanto ele tenta matar seus fantasmas na base de chineladas.

A vida não dá presente a ninguém. Se você quer uma vida, aprenda a roubá-la, alguém já disse. Não me ensinaram isso na escola.

quarta-feira, 28 de abril de 2004

NOTAS FOTOJORNALÍSTICAS











RECORDAR É VIVER - L. Beguoci, F. Corizza (de peruca) e F. Flor durante os primeiros dias na Cásper Líbero: descobrindo as maravilhas da Comunicação Social. 

segunda-feira, 26 de abril de 2004

VIVES, POR MACHADO DE ASSIS

" - Não te assustes, disse ela, minha inimizade não mata; é sobretudo pela vida que se afirma. Vives: não quero outro flagelo.

- Vivo? perguntei eu, enterrando as unhas nas mãos, como para certificar-me da existência.

- Sim, verme, tu vives. Não receies perder esse andrajo que é teu orgulho; provarás ainda, por algumas horas, o pão da dor e o vinho da miséria. Vives: agora mesmo que ensandeceste, vives; e se a tua consciência reouver um instante de sagacidade, tu dirás que queres viver. "

 Memórias Póstumas de Fernando Vives, que Machado de Assis escreveu do além e dedicou aos vermes que primeiramente roeram suas frias carnes. 

quinta-feira, 22 de abril de 2004

RUMO À ABL

Me sinto triste. A overdose de fechamentos acabou, o que me faz sentir um inútil. Até tenho um projeto experimental para fazer, mas isso não é importante. Quero me dedicar a coisas mais nobres. Ano passado me entreti escrevendo a biografia do anarquista sexual Daniel Patife. Este ano, nos períodos pós-fechamento, tal qual um Ruy Castro jundiaiense, me dedicarei a mais uma biografia. A escolha do retratado é árdua, tenho dúvida entre as muitas opções.
 
 
JESUS NÃO USA LENÇO NO PAÍS DE FELIPE CORIZZA - Como ser, ao mesmo tempo, homem e coriza? A dramática saga do homem que carrega no sobrenome o que o restante da humanidade leva no nariz. Em busca da cura para seus males nasais, ele tenta uma dieta especial a base de álcool e gorduras inventada por Fausto Wolff, que o fez perder 14 dias em duas semanas. Mas nada que o fez se livrar da cruz da coriza.
 
L. BEGUOCI: A OVELHA MUTANTE DIZ BOM DIA - Garfunkel, companheiro de Paul Simon, faz viagem misteriosa pelo Brasil. Nas exóticas bandas de São Paulo, é atacado por uma gangue de indígenas hispânicos e por eles é obrigado a tomar uma poção mágica, que o transforma em uma ovelha mutante chamada Leandro. Desesperado, tenta voltar para Londres atrás de Simon, o amor de sua vida, mas este não o reconhece mais. História dramática de ficção científica com happy end, no melhor estilo X-Men.
 
MARÍLIA, MAR E ILHA - Jovem interiorana e inescrupulosa tenta a sorte em carreira artística na capital. Tem um início conturbado nas Organizações Globo, onde não mede esforços para subir na vida. Se veste de Ana Paula Padrão para conquistar os chefes, namora o Elias Júnior ao mesmo tempo em que mantém um affair com a toda poderosa Marlene Mattos. Acaba realizando seu sonho: atuar como figurante de garçonete na Malhação. Mas sua sorte mudaria após quase eletrocutar-se na máquina de chapinha. Para maiores de 18 anos.
 
'QUERIDA, ENCOXEI AS CRIANÇAS': O RETORNO DE DANIEL PATIRE - Após fundar uma seita sexual, o Reverendo Patire casa-se com sua namorada interiorana, com quem tem filhos. Mas sua personalidade libidinosa e libertária o faz traí-la com um avestruz que ele conheceu no zoológico de Ribeirão Pires. Continuação do famoso best-seller Daniel Patire: Confesso que encoxei, vencedor do prêmio Fernando Vives de Literatura em 2003, e que alçou o autor a pretendente de uma vaga na Academia Brasileira de Letras.
 
F. VIVES: AUTOBIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA - A verdadeira história do tímido garoto jundaiense odiado pela vizinhança que se transformou em um dos maiores magnatas do século XXI. Ególatra e traidor ou gênio empreendedor? A obra causou ao autor um processo do ator Michael Douglas, pois relata em detalhes picantes do tórrido affair de Vives com Catherine Zeta-Johnes, esposa do ator. Polêmico.

quarta-feira, 21 de abril de 2004

DUAS CURTAS

- Pelé, em entrevista ao Estadão: "O Corinthians é favorito ao título do Brasileiro". Sim, o Corinthians, penúltimo no Paulistinha. Pelé: fale com o seu médico psiquiatra. Eu falaria.

- Revista Playboy, edição de maio, seção "Dúvidas dos Leitores":

Sempre que faço sexo oral com minha namorada, fico com dor de garganta. Será só coincidência? 
Bruno Almeida, SP

 Caro Bruno, coincidência ou não, sempre tenha um VickVaporub por perto após o ato.

terça-feira, 20 de abril de 2004

MOMENTO HISTÓRICO EM LOUVOR AO DIA DO ÍNDIO (E AO BISPO SARDINHA)

Ônibus da linha Princesa Isabel-Pinheiros, uma e meia da tarde. Um guri tenta levar no papo uma mocinha que - presumo - seja sua colega de classe. Em discurso empolgante e ruybarbósico, ele defendeu a tese de que o correto seria ser o Brasil devolvido aos índios.

A dúvida angustiou-me entre o fígado e alma. Justo? Sim, justo. Mas eles devolvem os espelhinhos?

segunda-feira, 19 de abril de 2004

MOMENTO PIEGAS (PORQUE TODO MUNDO TEM UM MOMENTO PIEGAS)

Falei aqui há alguns dias que, depois de um fechamento, o que eu mais queria era estar em uma ilha deserta com alguém e passar o resto da vida brincando de perpetuar a espécie.

Hoje acho que depois de um fechamento doloroso, quem é casado ou juntado tem uma enorme vantagem. Chega em casa na alta madrugada, tem a mulher pra dar uns beijos de consolo e te colocar na cama, fazendo cafuné até dormir.

E dormiria o sono dos justos, torcendo pelo próximo fechamento, só pra chegar em casa e ter tudo isso de novo.

quarta-feira, 14 de abril de 2004

Eu gosto de celulite.

Mino Carta, na página 55 de A sombra do silêncio

segunda-feira, 12 de abril de 2004

CURTAS

- Conselho: nunca utilize o Golzinho do seu pai para fazer trilha no mato no Sábado de Aleluia. Ainda mais se o seu pai tiver passado a Quinta-Feira Santa limpando o dito cujo. Ele pode não gostar.

- Há algo de sarcástico na cofraternização pascoalina do 192 da Rua Grécia. É a segunda Páscoa consecutiva que minha mãe prepara coelho no almoço. Não quero imaginar o menu lá de casa no Dia do Índio. Sugiro aos pataxós que fiquem longe dos pontos de ônibus até lá.

- Toda vez que assisto o Fantástico entendo porque Kafka queria se transformar em uma barata.

- Se você encontrar alguém com 1.95 m de altura no ônibus, no metrô ou no elevador, não o questione se ele joga basquete ou pratica judô, nem faça piadas do tipo "Você é grande mas não é dois" ou "Tá muito frio aí em cima?". Provavelmente ele ouve isso três vezes por dia. O dito cujo pode não gostar de ouvir novamente e querer te transformar em uma bola de basquete ou em sparring de tatame. Humpf.

- Felizes mesmo são os finlandeses que passam dez meses por ano bebendo vodka pra esquecer do frio. 

- Penso, logo desisto.

quinta-feira, 8 de abril de 2004

HISTÓRIAS QUE A HISTÓRIA NÃO CONTOU

O Dilúvio

 Ia cair, diziam todas as previsões, uma chuvinha de verão despretensiosa. Mas Noé, uma espécie de Narciso Vernizi da época, dizia que todos presenciariam um toró descomunal. Ninguém botava muita fé no velhinho, mas ele já foi logo juntando umas madeiras num canto pra montar sua arca, de modo que, quando a chuva chegou, ele era o único equipado pra agüentar o aguaceiro. E, quando as nuvens deram o ar de sua graça, a arca estava lá, prontinha. Até que era aconchegante.

 Noé tinha certeza que essa chuva ia matar todo mundo, que não ia sobrar nada. E, devido ao seu exagerado apego por animais, Noé quis porque quis juntar a maior bicharada junto com ele no barco. Aí a coisa ficou feia. Tinha um casal de cada coisa: cachorro, gato, elefante, leão, ovelha, papagaio, vaca, girafa, cobra, jacaré e o que mais o ilustre leitor puder imaginar.

 Vale aqui uma dado importante, fundamental até o término desta fábula: Noé era um paizão coruja. Gostava tanto de sua filha que a colocou para comandar o zoológico. A moça estava empolgadíssima, pois já trabalhara em uma grande editora local como monitora de Recursos Humanos e pretendia posicionar seu talento a serviço da embarcação.

 Quando a chuva chegou, Noé e sua filha botaram o zoológico pra dentro. Muitas pessoas imploraram pra entrar na arca do velhinho, mas ele disse que agora não adiantava mais. E lá dentro ele juntou todos os animais no saguão principal para que sua filha pudesse ministrar uma palestra ao grupo.

 Sim, uma palestra. As palavras da moça giraram em torno do tema “A flexibilização dos meios no ambiente pessoal e profissional”, e tinha como objetivo dinamizar as ações que dali por diante seriam tomadas pelos animais. “Nós precisamos estar criando um ambiente profícuo e palatável à boa convivência dentro da embarcação”, expelia a RH. E, a fim de sociabilizar todos a bordo, a moça sociabilizou atividades sociabilizantes e pediu para que a turma se misturasse a fim de “estar dinamizando o ambiente”. Dali em diante, esta seria a norma. Assim, o leão foi com a ovelha brincar com papel sulfite e lápis-de-cor, o macaco e a cobra fariam polichinelos periódicos para exercitarem-se e as girafas e os tatus foram encarregados de fazer dobraduras de papel crepom, com o intuito de estimular a criatividade. Para o papagaio sobrou treinar um dueto de latidos com o boi, para que eles sentissem como é a função do outro - no caso, o cachorro. A dupla faria uma apresentação ao restante da arca quando estivessem afinados. Assim, na visão da RH, todos se conheceriam, respeitariam os limites alheios e a arca seria uma grande família. Ainda sobre esta teoria, a filha de Noé ordenou que todos os carnívoros comeriam somente vegetais a partir de então, deixando répteis e felinos fazendo beicinho.

 Obviamente as coisas não eram tão rudimentares assim. O que era para ser um cruzeiro de quarenta dias e quarenta noites foi aos poucos se tornando um pesadelo. O primeiro grande pepino surgiu quando o leão degustou a ovelha quando deveria desenhar coisinhas bucólicas com ela. E o que é pior: a ovelha estava há muito sem tosar, e os chumaços de pêlo causaram certa deselegância gástrica no famélico felino.

 Pouco tempo depois, a cobra se recusou a fazer polichinelos alegando que não tinha pernas ou patas para tal. A RH dizia que isso não era motivo para desanimar, e obrigou a cobra a ler alguns livros de motivação pessoal do Lair Ribeiro. A cobra leu o livro e suicidou-se em retaliação.

 Aí a arca virou um bumba-meu-boi. Quem não descambou pro lado do sarcasmo virou catatônico-depressivo. O papagaio e o boi seguiram a primeira vertente: no dia da apresentação de ambos, em vez de latidos os demais animais assistiram a um festival de piadas sobre monitoras de RH. A filha de Noé ficou estupefata. Não admitia que seus conhecimentos fossem ridicularizados por aquele bando de bichos irracionais.

 Mas o mesmo não pode ser dito das girafas e dos tatus. A diferença de tamanho entre os casais era discrepante. Como tinham que agir em conjunto para fazer as dobraduras de papel crepom, uma girafa teve um torcicolo mortal e caiu dura no chão em forma de vírgula. Os babuínos, ensandecidos com o clima de estupidez generalizada imposto pela RH, se juntaram em volta da falecida e a improvisaram como um bambolê. Passaram a noite imitando John Travolta e Olívia Newton-John. O casal de tatus, coitados, olhava para as dobraduras catatônicos e nelas escreviam em câmera lenta:

- “EU..........QUERO........MINHA............MÃE”.

 Epílogo da história: quarenta dias e quarenta noites depois, os carnívoros comeram os não-carnívoros, e quando estes acabaram, começaram a roer as estruturas da arca. Morreram de congestão.

Ninguém quis degustar a RH. O leão, o mais sábio dos carnívoros, havia lido uma vez que deve-se comer um adversário derrotado, pois os conhecimentos deste seriam transmitidos para ele. A moça permaneceu intacta.

 Ao final do dilúvio, restavam Noé, a RH e uma arca parcialmente destruída. O pai levantou as mãos para o céu, desolado: “Aonde foi que eu errei?” Foi seu último suspiro.

 Sua filha foi a única sobrevivente para contar esta história, levemente alterada no decorrer dos tempos.

"Os críticos de teatro são tão fundamentais para o teatro quanto as formigas o são para os piqueninques."

Fausto Wolff,  o mestre, sempre ele.

quarta-feira, 7 de abril de 2004

COMUNICADO DE URGÊNCIA

COMUNICADO DE URGÊNCIA

O Tribunal de Pequenas Causas Inúteis acaba de baixar um decreto ordenando que Sorry Periferia pare de fazer referência a assuntos sexuais, uma vez que este espaço é também acessado por menores. "Karen Cunsolo, que tem 1.45 m de altura, é um exemplo. Ela só entra aqui se a cadeira tiver almofadinhas para conseguir enxergar a tela", justificou o juiz Siro Darlan, responsável pela medida cautelar. Influencidados pelos 40 anos da Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade e pelo filme "A Paixão de Inri Cristo", a censura ao Sorry Periferia é a primeira medida de uma série que prevê transformar o autor do site em um católico clássico tfpista.  Entre outras atribuições, o dito cujo deverá papar óstia no domingo de manhã, xingar pobres e praticar a pedofilia (pedofilia!? Eu disse pedofilia!? Está proibida qualquer tipo de referências sexual neste site!).

Fica definido também que, nos últimos posts, onde estão as palavras "masturbação" e "me...",  leia-se "auto-ajuda" e "saciando sensações carnais", respectivamente.

Satisfeitos, a TFP e o juiz Siro Darlan estão organizando um churrasco nesta Sexta-Feira Santa na sede da TFP em Higienópolis. Já marcaram presença Boris Casoy, Inri Cristo e Leandro Beguoci.

 Como atesta minha certidão de nascimento: o referido é verdadeiro e dou fé.

terça-feira, 6 de abril de 2004

São três e trinta e dois da manhã e eu estou há dezesseis horas na redação pra descobrir que o centroavante reserva do São Raimundo de Manaus chama-se Jeremias Bruce. Também descobri que todo time do Norte/Nordeste tem um médio-volante grosso chamado Chicão.

São nesses momentos que eu gostaria de me refugiar numa ilha perdida no pacífico e passar o resto dos meus dias - mulheres, não leiam isso – metendo – eu avisei – e fumando um baseado bem grandão.

Humpf.