quarta-feira, 22 de agosto de 2007

MATEM O BLOGUEIRO E CHAMEM O GARÇOM

Confesso que pessoas insistentes me aborrecem. Veja por exemplo o que me ocorreu na locadora no último sábado. Havia na prateleira o filme chamado Onze Homens e Um Segredo. Ao lado, a continuação Doze Homens e Outro Segredo, ambos que já tinha visto no cinema. Mas não contente com tantos homens e tantos segredos, eis que a Warner Brothers lança o Treze Homens e Um Novo Segredo, este último já praticamente uma fofoca, porque não há sigilo que agüente tanta gente e tanto rolo de filme assim.

Pois bem, caí na toupeirice de falar para o atendente que gostei dos dois primeiros, mas que não pretendia ver o último, no que ele começa um discurso tecendo loas ao estilo do filme e que, se eu gostei dos primeiros, teria que conferir o último no cinema e cousa e lousa e maripousa.

Pois confesso que a insistência da Warner Brothers e do atendente da locadora - um moleque de uns 15 anos com pinta de quem descabela o palhaço umas 18 vezes ao dia, ali na seção de filmes de baixaria - me fez refletir sobre o fenômeno da insistência humana enquanto erro, já diria um teórico de qualquer coisa. Por exemplo: não devo insistir em manter este blogue atualizado enquanto esta entidade mística chamada cansaço prosseguir apoiada em meus ombros, dando petelecos na minha orelha assim tão impunemente.

Há explicações, é claro.

Para os místicos, a interseção de Saturno com a Ursa Maior no meio das Três Marias causou uma massa de ar polar vinda do sul, o que tem causado chuvas e trovoadas a todos os jornalistas arianos com ascendente em tijolo - o legal do horóscopo é que o ascendente pode ser qualquer coisa, daí qualquer coisa se encaixar ao horóscopo de qualquer um.

Segundo um pragmático, as férias estão chegando, logo, o período que a antecede é sempre de cansaço, já que não se tira férias há muito tempo.

Para um psicólogo, no momento estou em um conflito edipiano deturpado, com inveja do falo da minha mãe e paixão por Freud.

De acordo com Chico Buarque de Hollanda, eu ando acendendo velas nos becos e falando alto pelos botecos, o que me impede momentaneamente de continuar a blogar. Mas, daqui algum tempo, mesmo o padre eterno que nunca foi lá, olhando este inferno irá abençoar.

Já para o meu lado empreendedor, me dedicarei agora a outros projetos, como os roteiros dos filmes porno cults Morte e Vida Cicciolina, Ditão Pé-de-mesa, o verdadeiro Mito da Caverna e o especial para zoófilos gays Confúcio e o bode na sala.

Segundo Fernando Vives, Pierce Brosnan, Clint Estwood, Kojak, Benício del Toro e outros caras durões, o melhor é deixar de frescura, dizer que não tá mais a fim de escrever por uns tempos e depois voltar, como tem ocorrido em todas as férias anuais que tiro deste hebdomadário virtual.

Portanto, voluptuoso leitor, este blogue pára por algumas semanas, talvez um mês. Ou, como diria o filósofo Evandro Mesquita: Falou, bróder, te vejo na 66.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

PEQUENA HOMENAGEM

Há pouco mais de cinco anos, tive uma infecção crônica em um dos joelhos que só não me tornou deficiente físico talvez por conta da piedade divina. Passei 44 dias dentro de um quarto de hospital absorto por uma rotina de antibióticos, exames, cirurgias e a certeza de que provavelmente não voltaria mais a andar direito.

Nessas horas algumas coisas pesam. Durante estes 44 dias, por exemplo, minha mãe esteve internada comigo. Não quis dormir nenhuma noite fora do hospital, não admitia deixar o filho sozinho numa situação daquelas. Era ela quem me ajudava a tomar banho, a comer, a pegar a comadre durante a madrugada e qualquer outra coisa que eu precisasse. Não adiantava insistir para ela dormir alguma noite fora de lá, em casa ou em algum lugar mais confortável. Ela simplesmente não conseguia. Foram 44 dias em que minha mãe viveu junto comigo, emagreceu junto comigo, dias em que eu via as minhas olheiras de cansaço estampadas nas olheiras dela.

Dois anos depois, fui a uma consulta definitiva ao médico que me tratou. O diagnóstico foi de happy end de final de novela: recuperação muito acima da média, caso para relatar aos alunos dele na faculdade como "exemplar", segundo as palavras dele. Naquele mesmo dia voltei para a província. Confesso que não ligava mais para toda aquela história - uma das maneiras de deixar de pensar nas merdas que ocorrem com a gente é minimizá-las ao ponto de quase esquecê-las.

Em casa, lembro que sentei no sofá com uma caneca de chá ou leite na mão. Minha mãe estava sentada na poltrona ao lado. Entre outros assuntos, disse que tinha voltado ao médico e contei que ele se assustara com a recuperação tão boa. Lembro que ela só disse "Que bom", e imediatamente abriu a comporta de um rio de lágrimas que eu não imaginava mais que estivessem represadas ali dentro. "Se você soubesse o quanto eu rezei para um dia ouvir isso...", disse ela, soluçando, mas soluçando mesmo. Pelo que me lembre, minha única reação foi abraçá-la e não dizer nada. Acho que não teria o que dizer.

Antes do incidente do joelho, era normal a gente brigar, dessas brigazinhas bestas que pais e filhos têm todos os dias. Depois daquilo, nunca mais tivemos meio desentendimento.

Nesta terça-feira minha mãe fez 58 anos. Para comemorar, no sábado quis trazê-la da província para passear em São Paulo. Almoçamos num restaurante alemão e passamos a tarde juntos falando besteira. Me diverti bastante, mas o importante era que ela se divertisse mais. E ela voltou pra casa feliz. Minha mãe é uma pessoa simples que age muito mais com o coração do que a razão. É dessas pessoas que mantêm o otimismo latente mesmo quando tudo insiste em dar errado.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

terça-feira, 7 de agosto de 2007

ALÔ, CRISTINA?

Você assume que tem algum tipo de retardo mental quando tenta ligar de sua casa para o Rio de Janeiro e acaba ligando para a Líbia.

Besouro, quando cai de costas, não se levanta nunca mais.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

NILO AMARO E SEUS CANTORES DE ÉBANO

Há algumas semanas, escrevi um post sobre a canção Leva eu, Sodade, cantada por um conjunto vocal dos anos 60 chamado Nilo Amaro e Seus Cantores de Ébano. Mas isso foi antes de um rapaz deixar nos comentários a dica do imeem, onde posso subir as músicas e lincá-las por aqui. Agora que faço usufruto deste programa com toda força - e também porque passei o fim de semana a ouvir o LP do conjunto - posto a música:



Os Cantores de Ébano adaptavam o som gospel dos negros do sul dos Estados Unidos para o cancioneiro popular brasileiro. Quem ouve até acredita que o Mississipi e o São Francisco não são tão distantes assim. Foram relativamente populares no início dos anos 60 e chegaram a gravar até pelo menos o fim da década seguinte. Leva Eu Sodade, Uirapuru, Romaria, Mulher Rendeira, Asa Branca e Guacyra, entre outras, foram gravadas pelo grupo (o LP que ouço é de 1979 e a viola é tocada por um jovem chamado Almir Sater).

Através deste texto do Luís Nassif descobri que Nilo Amaro morreu em 2004, em Goiânia. Uma pena. Juro que tentaria contato para uma entrevista ou algo do tipo.

Em tempo: fazia parte dos Cantores de Ébano o Noriel Vilela, que ficou famoso com o samba 16 toneladas, que ultimamente tem sido presença obrigatória em festas de bom gosto com som eclético.

Mais sobre Nilo Amaro e Seus Cantores de Ébano: http://www.luizamerico.com.br/fundamentais-nilo_amaro.php

Letra de Leva eu, sodade:

Toada

Tito Neto / Alventino Cavalcanti

Sólos de Nilo Amaro e Noriel Vilela ( grave )

* * * * * * * * * * *

Ô leva eu

(minha sodade)

Eu também quero ir

(minha sodade)

Quando chego na ladeira

Tenho medo de cair

Leva eu

Minha sodade.



Menina tu não te lembra,

(minha sodade)

Daquela tarde fagueira,

Tu te esqueces,

E eu me lembro,

Ai, que sodade matadeira,

Leva eu,

Minha sodade.


Na noite de São João,

(minha sodade)

No terreiro uma bacia,

(minha sodade)

Que é pra ver se para o ano,

Meu amor ainda me via,

Leva eu,

Minha sodade.

( Ô leva eu )