Foi ao escrever o texto (teoricamente) jornalístico que escrevo toda semana que, ao final, uma sobrancelha minha se ergueu, calhando de me coçar a testa. Tal peculiaridade física é, no meu caso, sinônimo de estupefação. O assunto era bom, a causa era boa, mas o artigo ficou com cara de velhinha fazendo feira ao meio-dia, sob um sol saariano: ô dó. Faltaram duas coisas: tesão e vírgulas. Horror inenarrável.
Ocorreu-me então que tenho verdadeira comoção por vírgulas. Meu blogue por um aposto. Posso até escrever uma frase que, no fundo, ficaria mais fácil de ser lida caso não tivesse tantas vírgulas, mas, como de praxe, recheio-na com esses pontinhos que, intencionalmente ou não, dão a ela um ar aristocrático (e que, nesta frase que você acabou de ler, e que ainda está lendo, remete a uma crise de soluços, tamanha a quantidade de interrupções). Nada tão britânico quanto uma frase cheia de vírgulas, desde que, é claro, é sempre bom lembrar, as vírgulas sejam usadas com parcimônia, o que não é o caso deste parágrafo, conforme você pode perceber.
Minha adoração por vírgulas só tem paralelo ao estupor que me causa um travessãozinho matreiro ao fim de uma frase - mais ou menos como estou fazendo agora, só pra exemplificar. Esse travessão corresponde a um gesto involuntário que cometo em diálogos ao vivo e a cores: pego no braço do interlocutor quando quero acrescentar uma informação, ou então negar o que acabei de falar - e esta pegação é meramente sintática, não costuma ter conotação sequessual. Quase todos os posts deste blogue contêm estes travessões encerrando as frases - e o post abaixo deste é uma exceção.
Outra fator gramatical que, percebo, é abusado por mim, são os dois pontos para acrescentar uma informação: exatamente como estou fazendo agora. É batata: fucei a rodo neste blogue e não encontrei um mísero post que não contasse com informações colocadas após um intróito quase sempre inútil seguido por dois pontos. Este é o defeito que mais empaca texto, na minha modesta opinião: se você usar duas vezes os dois pontos muito próximos, em uma ou mais frases seqüenciais, tem-se uma quebra de ritmo brochante.
O fato é que, voltando ao primeiro parágrafo, faltou ao tal artigo o tesão e as vírgulas. Então percebi que ultimamente tenho que escrever cada vez mais rápido. As vírgulas são inimigas da velocidade. São como aquelas cabras que invadem as estradas de montanha e não deixam a gente passar, nos obrigando a fazer uma pausa pra curtir um outro ritmo, o ritmo delas. E quando você não tem tempo de curtir este ritmo? Passa por cima das cabras, é claro. Isso explica o meu desapego momentâneo às vírgulas.
Organizei então uma assembléia dos neurônios que cuidam do meu léxico. Em votação unânime, pediram a volta da pausa para respiração, da pausa para a reflexão e, conseqüentemente, da volta da utilização de vírgulas com parcimônia, como nos velhos tempos. É a esquerda cerebral, que ameaça com greve de sinapses caso as exigências não sejam cumpridas.
Porém, há o movimento oposto, o dos neurônios pragmáticos, que cuidam de outras funções e cuja facção no momento tem o poder. É como um neoliberalismo mental. Esta corrente pragmática é a mesma que me obriga a almoçar em dez minutos, a acelerar mais do que devia na 23 de maio, e não ir ao bar durante a semana para conseguir acordar no horário e, sobretudo, a fazer-me utilizar exclamações muito mais do que gostaria.
É melhor explicar. Odeio exclamações. Os pontos de exclamação são como cheerleaders de colégio americano no âmbito gramatical. Uma exclamação ao fim de uma frase é um pom-pom levantado, mãozinhas acenando, gritos histéricos para a arquibancada. Nada menos elegante do que pontos de exclamação. No entanto, a cada conversa minha por messenger, eis que me pego cada vez mais usando pontos de exclamação. O ponto exclamativo é o legado de nossa miséria gramatical, é a consagração do "blz" no lugar do antigo "beleza", ou a utilização do "flw" em vez do simpático e demodé "falou". Um "flw!!!!!!" como despedida no messenger dói mais que uma traulitada nos cornos.
O impasse prossegue. Mas, como diria Frank Sinatra para Tom Jobim momentos antes daquele famoso show em Nova Iorque nos anos 60: "Vai que vai".
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O assassino era o escriba
Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjunção.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido na sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
Paulo Leminski
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Đây khôn...
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