
A pergunta que não quer calar é: se Justin Timberlake pode ser ator de Hollywood, por quê não Rafael Ilha? O ex-integrante de uma boi bande chamada N´Sync - Corizza, você que é fã, escrevi certo o nome? - é um desses tipos que desarrumam o cabelo para cima e passam gel, o que até há algum tempo era sinal de psicopatia. Mas não era do cabelo de J. T. que eu gostaria de falar, e sim de sua carreira cinematográfica. Pelo que pude apurar, ele tem três filmes no currículo, o que, se tratando de um cover dos New Kids, é coisa pacas.
O que me pegou entre o fígado e a alma foi este último, Edison - Poder e Corrupção. Não, não se trata de uma biografia do senador Edson Lobão, dono da metade do Maranhão que não é de José Sarney. No elenco, Kevin Spacey, Morgan Freeman e... Justin Timberlake. Um BMW, um Bentley e um Fuscão 78 com vidro bolha e pneu de tala larga. A coisa vai piorando, aguenta aí: o moço do cabelo em pé gelzado é o ator principal. Mas quando chove merda não garoa, e ele faz o papel de um jornalista/galã indignado que luta contra a falência moral do local. Praticamente um repórter da Veja.
Houve uma época em que galã de Hollywood tinha cara de galã mesmo, mas isso foi no tempo em que a camada de ozônio ainda existia. Jornalista e galã não tem muito a ver, mas jornalista e o J.T. tem menos ainda. Daí a pergunta: por que não Rafael Pilha para o papel? Dizem que ele engole qualquer coisa (acabo de ser inundado por um complexo de culpa após redigir esta frase). Engoliria até papel de jornalista da Circo-Escola Cásper Líbero ou repórter da Ilustrada de meses atrás.
Ah, a Ilustrada de meses atrás. Rafael Pilha se daria muito vem por lá, pois ambos sofrem do mesmo complexo de avestruz, que é engolir qualquer coisa, de pilha a João Gordo. Mas o que me dava orgulho mesmo na Ilustrada era a predileção pelo exótico, pelo "não conheço", pela banda de garagem do magricelo perdedor e drogado daquele colégio daquela vila industrial da Nova Zelândia.
Mas eis que as coisas andaram mudando e o gosto pelo exótico está meio em baixa na Ilustrada, o que faz dela, ao menos, legível. Outro dia havia até uma entrevista com Monarco, da Velha Guarda da Portela, na página principal. Não sei quem é Monarco, mas certamente ele é mais relevante que um porra-louca depressivo do drumin´bass polonês que se matou há seis meses porque o namorado o traiu com um travesti numa rave no metrô de Londres. Pena que ninguém dá valor às novas iniciativas ilustradas. Impressionante como um sujeito que tá no morro do Rio de Janeiro há décadas fazendo música pode soar mais exótico que esses donzelões.
Posto o intróito cinematográfico e o final musical, encerro este jeitão com cheiro de dança do maxixe: um Rafael Pilha no meio com dois assuntos depressivos fazendo sanduíche.
Nenhum comentário:
Postar um comentário